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Segunda-feira, 30/6/2014
O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty, o livro do ano

Julio Daio Borges




Digestivo nº 501 >>> Fazia tempo que um livro não gerava tanto comentário. No Brasil, a versão em português nem saiu, embora tenha sido anunciada pela Intrínseca, mas todo formador de opinião, metido em economia, já deu algum palpite. A maior gafe ficou por conta dos economistas que assessoram os pré-candidatos à Presidência da República, que reconheceram a importância da obra, mas não leram, nem sequer folhearam. Estamos falando de Armínio Fraga e de Eduardo Giannetti da Fonseca (nem estamos falando de Guido Mantega). Thomas Piketty, um francês, quem diria, chacoalhou o establishment, principalmente anglo-saxão, ao concluir que a desigualdade nos Estados Unidos, a meca do capitalismo, está aumentando. A tese de Piketty, repetida em prosa e verso, é a seguinte: quando a remuneração pelo capital, de uma minoria, é maior do que o crescimento da economia, como um todo, a desigualdade aumenta no país. Se a elite do capitalismo nacional enriquece mais rápido que o restante da população, a desigualdade se aprofunda na nação. Lida assim, sua conclusão parece óbvia, um verdadeiro ovo de Colombo. O problema é que ela vai contra alguns dos pilares do chamado american dream. Segundo Piketty, a meritocracia, tão alardeada nos Estados Unidos, manda cada vez menos. E a elite do capitalismo global tende a se perpetuar, se nada for feito para reverter a tendência atual. O capital, em veloz acumulação, pode ser uma ameaça às instituições e à própria democracia, outro dos pilares do american way of life. Se os detentores do capital tendem a enriquecer mais rápido do que a média da população, está ameaçada a igualdade de oportunidades ― e, em outras palavras, a famosa "busca pela felicidade". Sim, the pursuit of happiness, que é um dos "direitos" presentes na histórica Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776) ― que, simples e apenasmente, inspirou outras revoluções, como a francesa de 1789. O Capital no Século XXI que, desde o título, ecoa Das Kapital (1867), de Karl Marx, teve, como seu maior divulgador, ninguém menos que Paul Krugman, o Nobel de Economia de 2008. A versão em inglês da obra de Piketty, em papel, esgotou na sequência. E o primeiro ataque de peso veio do blog do Financial Times, o jornal que é uma instituição no Reino Unido ― questionando muitos dos dados utilizados por Piketty na construção de seu raciocínio. Se as suas informações não são boas, se há erros de apuração, ou até distorção (segundo alguns), a retumbante conclusão perde sua força, ou não? Piketty apressou-se em responder que seu modelo "pode ser aperfeiçoado", mas que seu objetivo "era promover o debate" (objetivo alcançado). Em sua defesa, veio nada mais nada menos que The Economist ― a melhor revista do mundo? ― questionando, justamente, a análise do Financial Times. O livro de Piketty parece à salvo, por enquanto, da condenação. Ou, no mínimo, exige que cada um leia e tire sua própria conclusão. Thomas Piketty não quer ser uma celebridade instantânea e parece não se impressionar com o sucesso, mas corre o risco de ser eleito O Homem do Ano.
>>> O Capital no Século XXI (Em Português) | Capital in the Twenty-First Century
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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