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Quarta-feira, 25/7/2001
O fígado é só seu e de mais ninguém

Julio Daio Borges




Digestivo nº 42 >>> Quando o Ratos de Porão surgiu na mídia, mais ou menos junto com o Sepultura, no début da década de 90, brotou da terra feito lava de vulcão, cuspindo as víceras de uma sociedade, que evitava encarar de frente seus filhos menos diletos. Naquela época, eles eram desagradáveis, necessários e autênticos. De lá pra cá, o escatológico foi sendo alçado à condição de índice de audiência, de modo que o porta-voz do "mundo cão" de hoje pode, muito bem, converter-se no emergente "clown" de amanhã (rápido como num passe de mágica). Não existe mais gravidade, nem vergonha na cara, é tudo quase sempre materia-prima, para essa grande ópera bufa, em que se transformou a vida (pós-Machado). Assim sendo, o ingênuo, que defende causas justas neste instante, pode estar servindo de diversão, para esse imenso coliseu romano, em que se converteu a televisão (as revistas e as rádios que lhe dão suporte). Que João Gordo seja capa da Veja em São Paulo, só reforça a constatação de que ele foi plenamente digerido e assimilado, pelo mesmíssimo público, que, aliás, há meros dez anos, tratava de execrá-lo. De agora em diante, pois, é só uma questão de tempo, até que ele passe de "revolucionário" do talk show a "espantalho" da Rede Glodo. Abrir-lhe-ão, cada vez mais, os microfones, expondo suas fragilidades e suas indiossincrasias, para além do suportável. A ilusão inicial é a de que João Gordo ganha mais espaço, para se movimentar e para se expressar. Quem conhece o efeito, porém, sabe que, ao ser entendido e explicado, ele vai se convertendo em caricatura (da própria classe) e em anti-corpo (contra si próprio): repetirá sua mensagem até que ela não tenha mais efeito, num futuro próximo; será emulado com facilidade e sem prejuízo; terminará substituído e conduzido à obsolescência, sem dor ou trauma; acabará expelido de volta, como se por aqui nunca antes tivesse passado.
>>> Vejinha
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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