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Quarta-feira, 1/8/2001
O dilema brasileiro

Julio Daio Borges




Digestivo nº 43 >>> Nem sempre é possível tratar das conquistas da culinária e da gastronomia, quando, num país de Terceiro Mundo, outras questões fazem sombra a essa relativa pujança alimentar. Um olhar mais demorado sobre as prateleiras dos lançamentos, nas livrarias, traz de volta um tema ancestral e insolúvel: a fome. Campanhas para erradicá-la vêm e vão, mas ela continua em voga, firme e forte, pois nunca foi prioridade "matá-la" (a fim de que ela não mate outros homens). Por essas e por outras que, a reedição da Geografia da Fome, de Josué de Castro, deve receber a atenção que o seu pioneirismo merece ou, ao menos, reacender a discussão acerca desse mal que ainda assola o mundo. O livro estende o conceito, aplicando-o de forma a abarcar o que chama de as "fomes coletivas" e, sobretudo, o problema das "fomes parciais ou ocultas" (aquelas que matam lentamente embora os indivíduos se alimentem diariamente). É notável que essa última variante se aproxime do atual fenômeno da anorexia e da bulimia, que é também social, posto que persegue um ideal de beleza (e de magreza) concebido em sociedade e imposto em escala. (A Josué de Castro, porém, não interessaria o drama dos que se fazem pele e osso por mera obsessão estética.) Um dado que prejudicou, e que prejudica, qualquer debate mais sério sobre as misérias humanas é o fato de que elas podem se transformar em meras campanhas promocionais, beneficiando certos nomes ou grupos, e terminando praticamente inócuas. Talvez para extirpar essa e outras pragas seja necessário acreditar em utopias (mais uma vez). O autor afirmava, por exemplo, que a era do "homem economico" havia acabado. O que prova que ir contra o senso comum não é lá muito saudavel, mas, 'as vezes, necessário.
>>> Josué de Castro
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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