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Segunda-feira, 29/10/2001
Só é gordo quem quer

Julio Daio Borges




Digestivo nº 54 >>> O 27º Panorama de Arte Brasileira abriu suas portas na semana passada, no Mam. Champanhe para os convidados, artistas com cabelos multicoloridos, patrocinadores engravatados, curadores com a mirada perdida no horizonte. Tinha de tudo. Nem adiantava perguntar o que era sério e o que era piada (com a cara do espectador). Um trabalho, no entanto, chamou a atenção e captou mais do que alguns segundos daqueles que passavam pelas instalações, pelos vídeos e demais objetos inclassificáveis. Foi a pesquisa de Fernanda Magalhães sobre a obesidade, mais especificamente sobre a “mulher gorda brasileira”. Numa parede estavam penduradas fotos de uma de suas modelos: primeiro, vestida; depois, nua. Numa outra parede foram colados e-mails de um grupo de internautas que se identificavam exatamente pelo excesso de peso. De repente, suas histórias de vida invadiam os pensamentos dos passantes e – para completar – um fone com depoimentos, pendendo do teto, estava disponível para quem quisesse ouvir aquelas pessoas falando. Hoje em dia, com as academias de ginástica, com os alimentos sem gordura e sem açúcar, com o excesso de zelo em relação ao corpo, os gordos (sem eufemismo) são uma espécie em extinção. Um deles afirma com razão: alguém já pensou o que significa ser consideravelmente “enorme” e viver como herege dentro da religião que prega 24 horas por dia a “boa forma”? De um momento a outro, defende-se os pretos, os judeus, as mulheres, os pobres – e os gordos? Esquecemos dos gordos. A uniformização tende a passar por cima deles. Lógico, não é a opção mais saudável do mundo (essa de ignorar a existência da balança) – mas será que eles não têm o direito, como todos, de escolher o que querem ser?
>>> Mam - Parque do Ibirapuera (portão 3) - Tel.: 5549-9688
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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