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Terça-feira, 23/7/2002
Revolto e revolucionário

Julio Daio Borges




Digestivo nº 91 >>> Por causa de toda a expectativa criada em torno do artista de "Samba Raro" (2000), Max de Castro sempre soube da dificuldade em superar seu primeiro álbum. Por isso, não o superou: seguiu por um caminho novo. É a sensação que nos passa esse recém-chegado "Orchestra Klaxon". Apesar da homenagem explícita à revista que semeou as idéias do modernismo, Max de Castro fala em renovação (confirmado a tese da angústia da [própria] influência). Contrariando a abertura robotizada do primeiro CD, esse segundo recorre a um afrossamba (na descrição do próprio compositor), intitulado "O futuro pertence à Jovem Guarda", no melhor estilo Moacir Santos, dedicado ao seu amigo... Ed Motta. (Quem anda atento às dedicatórias deve se lembrar que o sobrinho de Tim Maia endereçou seu "Dwitza" [2002] ao criador por trás de "Ouro Negro" [2001].) Mas as coincidências e os namoricos não param por aí: a segunda faixa, feita para arrebentar e convencer o comprador que passeia pelo disco na loja, tem letra do nosso amigo... Erasmo Carlos. O Tremendão anda inspirado como não acontecia há muito: "Se desfez dos adereços e se vestiu de nua / (...) / Não sabia o samba-enredo, mas sorrir, sabia até de cor / (...) / Num imenso baile-funk, só que era carnaval." Esse último verso, por coincidência (ou não), assenta perfeitamente sobre a estética de Max de Castro: campeão de batidas eletrônicas de vanguarda, sempre que pode, fixa suas bases nas levadas seminais de Ben Jor. Samba Raro, Samba Esquema Novo (1963), Samba Esquema Noise (1994) - estão todos irmanados neste "Orchestra Klaxon". Outros convidados desafiam a unidade do CD, mas não a abalam: Patrícia Marx, Liminha, Daniel Jobim, Wilson das Neves, para ficar entre os consagrados. Fora as outras parcerias: Bernardo Vilhena (o mesmo do Lobão de "Vida Louca Vida") na intrigante e grudenta "A vida como ela quer"; Seu Jorge (de Samba Esporte Fino [2001], mais um [!]) na maliciosa e bossa-novística "O nego do cabelo bom", com uma Paula Lima misturando Alcione e Miúcha. Max de Castro ainda ensaia flertes com os versos de Caetano (em "Mancha Roxa"), com o mais puro lounge ("Petit Comitê na Casa de Tia Ciata") e com a latinidade ("Acapulco, daqui a pouco"). A melhor surpresa, contudo, fica a cargo dos momentos sérios: "Os óculos escuros de Cartola" e a confessional "Calaram a voz do nosso amor". Netas de Babulina. Parece colcha de retalhos; mas não é. Max de Castro se salvou da obsessão pela própria estátua.
>>> Orchestra Klaxon - Max de Castro - Trama
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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