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Segunda-feira, 16/9/2002
Um homem de Oz

Julio Daio Borges




Digestivo nº 99 >>> Veio a calhar a idéia da José Olympio de (re)publicar "Aqui está Nova York", ensaio de E.B. White, em tradução de Ruy Castro. Afinal nos arredores do 11 de setembro o texto de White soa assustadoramente premonitório, como diz a orelha e frases como esta: "de todos os alvos, Nova York tem uma espécie de clara prioridade". Ou então: "Na mente de qualquer pervertido que enlouqueça, Nova York deve exalar um encanto irresistível". Mas o ensaio não é nem de longe um exercício de clarividência sobre o holocausto que se abateria sobre a cidade, é, na verdade, um misto de celebração e de nostalgia, afinal, E.B. White voltava à metrópole que escolhera para morar duas ou três décadas antes. Estamos falando de um manuscrito forjado em 1949, quando White foi especialmente convidado por Roger Angell (então seu enteado) para preencher as belas páginas da revista "Holiday". À insinuação por parte de Angell de que seria "divertido" reencontrar Nova York anos depois, e registrar suas impressões a respeito dela, White respondeu: "Escrever nunca é divertido". Ponto. Ao lê-lo, porém, a impressão é outra; há, além do mestre do estilo, uma poesia inebriante, que permanece encantando leitores através dos tempos. Claro, o ensaio caminha para a desilusão e para o enfado, à medida que as páginas avançam. A dádiva da solidão e a dádiva da privacidade (no primeiro parágrafo) cedem lugar à árvore, que, se um dia morrer, com ela tudo mais perecerá (no último). O que interessa, contudo, é o passeio, o vagar ou, nas próprias palavras de E.B. White, a vadiagem. Até porque quem nunca mandou às favas o trabalho e os compromissos diários para se perder, de vez em quando, nas ruas e ver a sua cidade respirar, nunca chegou a conhecê-la de fato.
>>> Aqui está Nova York - E.B. White - 55 págs. - José Olympio
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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