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Segunda-feira, 28/10/2002
Jabaculê

Julio Daio Borges




Digestivo nº 105 >>> O paradoxo da divulgação no Brasil. Ninguém questiona muito mas algo nos diz que o modelo está errado. Como funciona: quem tem um produto (disco, livro, filme, restaurante) contrata uma assessoria de imprensa; o assessor, dependendo dos contatos, do produto e dos releases, consegue espaço nesse ou naquele veículo; o cliente (artista, empresário ou empresa) paga o assessor de imprensa e fica tudo por isso mesmo. Onde está o furo: os veículos, em geral de imprensa, estão à míngua, pela falta de anúncios; se aceitam pagamento pela divulgação (dispensando portanto a assessoria) são imediatamente crucificados pela falta de ética jornalística. Paradoxo: os veículos estão fechando suas portas e as assessorias proliferam a cada esquina. Corolário: os jornalistas dos veículos, que efetivamente divulgam os produtos, são mais mal remunerados que os autores dos releases. Basta perguntar quanto custa para divulgar um produto ou evento através de qualquer assessoria e, depois, quanto ganha um jornalista por matéria ou "frila". As diferenças chegam a até dez vezes; mesmo que a assessoria não seja lá essas coisas e mesmo que o jornalista seja de renome. Nesse contexto, fica complicada a sobrevivência dos "independentes": primeiro, porque não têm contatos para conseguir anúncios de estatais, grandes bancos e empresas de telecomunicação (potenciais anunciantes em qualquer veículo que se preze); segundo, porque as assessorias (e seus clientes) já estão acostumados ao "velho esquema", e não vêem como "trabalho" a divulgação feita por pequenos veículos (vêem como "favor", ou coisa parecida). Difícil quebrar esse ciclo, justamente no estado em que se encontra a mídia: falida. E na situação de indigência em que vive a maioria dos jornalistas. A saída talvez esteja no modelo adotado por pequenas publicações, como os jornais de bairro ou de categorias, que não sucumbem à matéria paga, mas que sobrevivem à base de pequenos e numerosos anúncios. O problema do Brasil continua sendo a "classe média"; enquanto ela não existir, ficamos entre os tubarões e os lambaris. Também no jornalismo.
>>> Jornalista é gente?
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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