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Terça-feira, 21/1/2003
Eu tô chegando

Julio Daio Borges




Digestivo nº 117 >>> Logo que o lounge veio à tona, uma interpretação de "Só Tinha de Ser com Você" chamou a atenção. Quem era aquela cantora? Uma voz perdida na onda de um novo ritmo? Ouviríamos mais dela ou acabaria, como muita coisa, passando? Mais tarde, o nome de Fernanda Porto foi ganhando mais projeção, até culminar com o disco homônimo, lançado em 2002, pela Trama. Mas as surpresas não pararam por aí: além de ter tido fôlego para 14 faixas, assinou 13 delas, sozinha ou em parceria (letra ou música). De repente, aquela moça que ameaçava sumir despontou como compositora, deixando sua porção intérprete meio de lado. É muito cedo para inquirir sobre o que Fernanda Porto realmente pretende (tornar-se uma artista no cenário da MPB?). Embora tenha se lançado graças ao boom eletrônico, joga suas iscas no mar da bossa nova, toca violão e piano (formou-se no instrumento e fez faculdade de música). Mas seu público, pelo menos o atual, vai se fixar provavelmente no lado drum'n'bass, ainda que Fernanda Porto queira eletronificar (e não eletrificar) até mesmo o samba. É igualmente cedo para traçar uma genealogia, mas - se possível fosse - arriscar-se-ia algo entre Zizi Possi (a grave) e Daniela Mercury (a aguda). (Leviano? Quem sabe.) Quanto às mensagens cifradas (ela se importa em traduzi-las), há muita pressa nas suas declarações: "Fugir com você, eu quero" (De Costas Pro Mundo); "Você acelerou minha calma" (Tudo de Bom); "Nem sequer podia pensar" (O Amor Não Cala). E, lógico, há o ritmo frenético das paixões guardadas durante anos (uma marca registrada do nosso tempo?): "Você foi tomando um jeito novo" (Jeito Novo); "Frases tuas de insuportável beleza" (Vilarejo Íntimo); "Eu sonhei que o tempo bastaria" (Amor Errado). Para completar, uma versão moderna do Eclesiastes: "Tudo neste mundo tem o seu tempo/ Cada coisa tem a sua ocasião". Fecha o ciclo "1999", versificada em latim, trilha sonora do filme de Toni Venturi. Ainda que o trabalho de Fernanda Porto não seja forte o suficiente para produzir julgamentos categóricos, ao mesmo tempo não compromete. Como todo disco de estréia, aponta caminhos que caberá, ao artífice, seguir ou não.
>>> Fernanda Porto - Trama
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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