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Segunda-feira, 10/11/2003
E eu não gosto também de Tolstoi

Julio Daio Borges




Digestivo nº 148 >>> Por que lemos Charles Bukowski? Por uma certa necessidade de consumir subliteratura? Para refrescar a cuca, como Wittgenstein (que, depois de dar uma aula, corria para ver os musicais de Carmen Miranda, aos quais atribuía uma função de “ducha”)? Talvez. Bukowski, despretensioso, pode ser combinado com alguma outra coisa, e aliviar a mente depois de determinadas leituras. Como nesse “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio” (1998), que a L&PM agora relança em formato “pocket”, com as ilustrações de Robert Crumb. Trata-se do diário dos últimos anos de Bukowski, o qual começou por insistência de alguém (disseram para ele que era “importante”, e ele acreditou). É divertido, mais do que tudo. Versa sobre a conhecida ojeriza do escritor a seus pares; compara-os aos músicos (clássicos) e só pode concluir que são muito piores. Aborda também sua atitude esquiva com relação à fama, que ele parecia não compreender e muito menos desejar: foge dos que lhe pedem autógrafo, daqueles que apenas querem ver sua cara e principalmente dos falsos entrevistadores (deles sofre vários golpes). E como todo diário, não poderia faltar a parte confessional: Bukowski revela sua vontade de estar só e o quanto isso chega a deprimir sua esposa (aponta os Estados Unidos como a maior nação de “esposas deprimidas” do mundo). Narra, com muito humor, a ida a um show de rock (por insistência de sua companheira, e do roqueiro, que queria homenageá-lo) e observa que adoraria conhecer as letras das canções, se pudesse escutá-las. Embora os beatniks tenham inspirado os hippies, a ponte que se fez de lá para cá consagrou uma inverdade: a de que os primeiros apadrinharam os últimos. Bukowski, por exemplo, dedica alguns trechos de seus derradeiros escritos a condenar a vagabundagem; elenca uma coleção de pseudopoetas que, enquanto esperavam a inspiração, viviam da mesada da mamãe. Literatura, ele sabe, é labuta; ainda que não tenha produzido muita. Os “desleixados” da arte contemporânea parece que não leram direito seu guru. Eis aí mais uma chance.
>>> O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio - Charles Bukowski - 150 págs. - L&PM
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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