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Segunda-feira, 17/11/2003
Polititica

Julio Daio Borges




Digestivo nº 149 >>> A divulgação que atualmente se faz de “As Invasões Bárbaras” (2003), filme que abriu a 27ª Mostra Internacional de Cinema, impõe uma associação restritiva com o Maio de 68 e com as utopias dos anos 60 e 70 (o socialismo, o amor livre, a contracultura, etc.). Felizmente o longa de Denys Arcand é mais que isso. Antes de se limitar a um balanço dos ideais daqueles jovens que hoje alcançaram o poder (é bom que se diga), a fita provoca uma urgente meditação sobre a morte (que, para o protagonista, é eminente) e, ao mesmo tempo, incita à celebração da vida (ou daquilo que resta dela: as fagulhas de uma humanidade perdida). O filme não é também sobre o “choque” entre duas gerações (a atual e a dos “Anos Dourados”), mas, sim, sobre uma conciliação possível, representada pelo entendimento amoroso e tardio, entre um pai e um filho. Não existe uma época “melhor” do que outra – mas as viúvas de 68 insistem em roer o osso; e não se conformam em ser, na produção de Denys Arcand, apenas “pano de fundo”. Óbvio que as referências são muito fortes para, no Brasil, evitar esse assunto. É questionável, por exemplo, se a fita teria o mesmo impacto se fosse rodada no idioma de Shakespeare (e não em francês, como é o caso). Aliás, o único “defeito” que não permite aos nossos cinéfilos consagrá-la é o fato dela ter sido realizada no Canadá – e não na França. (No “Canadá francês”, vale frisar.) Independentemente de tudo isso, “As Ilusões Bárbaras” (um título fora de propósito, diga-se de passagem), compensa pela perfeição estética, pelo texto pra lá de inteligente e pela experiência em matéria de sétima arte (como, por aí, não se encontra mais). Como toda grande obra, é a expressão universal de uma cultura – donde, toda ideologia deve ser posta de lado; para o bem do cinema e em nome da paz de espírito do espectador.
>>> As Invasões Bárbaras
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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