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Sexta-feira, 5/3/2004
Arnito Rey

Julio Daio Borges




Digestivo nº 165 >>> Era uma vez um sujeito chamado Arnold Friedman. Sua mãe se separou quando ele era pequeno e costumava trazer seus namorados para casa. Arnold dividia o espaço da cama com eles, que, sem a menor cerimônia, mantinham relações com sua genitora (enquanto ele estava presente; pelo menos, é o que conta). Esse mesmo sujeito, quando completou 13 anos, passou a sentir atração por meninos de sua idade e, segundo confessa, passou a relacionar-se com o irmão mais novo (de 8 anos). O irmão, hoje um senhor de 60, diz que não se lembra de nada. O fato é que Arnold Friedman casou-se com Elaine, para quem o sexo sempre foi uma coisa mecânica e burocrática. (Como um hábito; pois assim lhe havia ensinado Arnold.) Acontece que eles tiveram três filhos: David, Seth e Jesse. Eram uma família meio biruta que filmava e gravava tudo compulsivamente. Os filhos eram também meio bobos; o pai, um professor universitário um pouco “nerd”; e a mãe, uma infeliz acuada e sem voz. Nesse cenário, teve lugar um dos mais horripilantes escândalos dos Estados Unidos. Consta que Arnold se apaixonou pelo próprio filho, Jesse, com quem manteve um “relacionamento” (enquanto este era criança). Arnold ministrava aulas de piano e de computação em casa, tendo o Jesse adolescente como seu ajudante. Juntos, ao longo dos anos, eles violentaram quase duas dezenas de garotos de idades variadas que compunham suas classes. “Na Captura dos Friedmans” (2003), um documentário de Andrew Jarecki, reconstitui o cenário doentio em que os crimes se desenrolaram. É mais um daqueles casos em que se pergunta até onde o cinema deve ir. A humanidade precisa tomar conhecimento desses atos nos seus detalhes? Essa “realidade” deve mesmo ser mostrada ou não passa de patologia que deve ser, clinicamente, estudada? No fim, Arnold Friedman morreu na prisão, Jesse passou 13 anos preso, David foi ser palhaço (literalmente) em Nova York e Elaine casou-se novamente. E a opinião pública poderia ter sobrevivido muito bem sem eles.
>>> Capturing the Friedmans
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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