busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês
Sexta-feira, 23/4/2004
Sócrates exótico

Julio Daio Borges




Digestivo nº 172 >>> Os artistas (plásticos) totais são hoje raros. De diletantes, temos mais músicos e escritores do que qualquer outra coisa. Picassos, então, nem se fala. Talvez nasça mais algum daqui a 200 anos. Talvez não nasça nunca mais. Na esteira da exposição na Oca, saiu um CD da MCD que tenta explicar a “impossibilidade” de se ter um novo Picasso. O disco abarca a “música de seu tempo”, e pelas relações (nesse reino) do pintor espanhol entendemos como a coisa é bastante improvável: Stravinski, Satie, Poulenc e Albéniz foram próximos ao executor das “Demoiselles d’Avignon”. Para o primeiro, Picasso se envolveu na feitura dos cenários da “Pulcinella”; para o segundo, desenhou os figurinos de “Parade” (também uma peça); para o terceiro, mandou recados via Apollinaire e Éluard (poetas mais chegados); e para o último, foi audiência quando a ópera Henry Clifford estreava em Barcelona. E mesmo que o “motivo” principal não fosse “Picasso”, o CD já teria valido a pena – pela cuidadosa seleção de obras do começo do século (XX). Duas das mais revolucionárias peças de Igor Stravinski, por exemplo, estão presentes: a “Dança Russa” e “Petrushka”. Depois, de Erik Satie, que mais se conhece pelas cartas (e citações) e pelo comportamento excêntrico, temos uma boa amostragem em “Choral, Prélude du rideau rouge, Prestidigitateur chinois” (pouco mais de 5 minutos). De Isaac Albéniz, está a clássica “Asturias”, conhecida por figurar em 10 entre 10 evocações musicais à Espanha. Como se não bastasse, há ainda as “Banalités” (nada banais) do mesmo Guillaume Apollinaire, musicados por Francis Poulenc; bem como o “Tel jour telle nuit” (do referido Paul Éluard), igualmente embalado por Poulenc. De Manuel de Falla (cujo sobrenome os brasileiros desinformados ligam a um certo grupo de “rock” gaúcho), foi incluído o agradável (nem parece “moderno”...) “The Three-Cornered Hat”, para fechar. Isso tudo para mostrar que Pablo Picasso, além de “artista total” genial, e explorador de mulheres nas horas vagas, foi um sujeito bem relacionado e de bom ouvido.
>>> Picasso: a música de seu tempo - MCD
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

busca | avançada
133 mil/dia
2,0 milhão/mês