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Quarta-feira, 9/6/2004
Os Deuses de Hoje

Julio Daio Borges




Digestivo nº 178 >>> Pobre Tróia. No cinema, terminou confundida com as orgias romanas, os romances de cavalaria, a totemização africana e a monumentalidade egípcia. Os cineastas da nossa época, pelo visto, não sabem caracterizar a Grécia. É provavelmente da boca de Brad Pitt que sai a descabida afirmação: “Lutei em cinco ou seis países”. Países? Alguém precisa lembrar aos roteiristas, e aos tradutores, que a noção de “Estado Nacional” não existia no tempo de Aquiles. Nem no de Agamenon ou Menelau, que, no filme, se sentem conquistando “países” como generais da Primeira ou Segunda Guerra. “Cidades-estado” até pode ser; mas não “Estados” ou “Nações”. E que tal uma Tróia sem Cassandra? É isso o que vemos agora em tela grande. Mesmo Fernando Henrique Cardoso, então presidente do Brasil, usou o termo “cassandras” para apontar os “catastrofistas” que perseguiam seu governo. Cassandra, senhora do templo de Apolo, previu o incêndio de Tróia. Isso até Marion Zimmer Bradley sabe; mas os realizadores do “blockbuster” preferiram suprimir a personagem. Enxertaram outra, Briseis, que é um misto de sacerdotisa com amante de Aquiles. Não colou. Assim como não colou Brad Pitt entre o galã e o herói. Não convenceu em nenhum dos dois. Pitt tem vocação para menino mau; desde “Kalifornia” (1993), quando namorava Juliette Lewis, até “Clube da Luta” (1999) e “Snatch” (2000), dois de seus melhores papéis no cinema. “Tróia” pelo menos serviu para tirar “A Paixão” do pódio; vendeu mais ingressos no primeiro fim de semana e vai acabar com os pseudo-recordes que pareciam “milagrosos”, exaltando uma legião de “religiosos”. Um cinema onde a arte anda escassa precisa de números e de “fenômenos” desse tipo para se justificar. Agora a moda é contratar um único ator de verdade, diluí-lo em meio a coadjuvantes, caprichar nos efeitos especiais e na computação gráfica, e depois – com um apelo “histórico” – vender a fita que nem água. E as pessoas compram; mal informadas que estão. Vem aí o Rei Artur. Melhor ler “As Brumas de Avalon”.
>>> Tróia
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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