busca | avançada
63387 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Segunda-feira, 12/7/2004
Prêt-à-porter

Julio Daio Borges




Digestivo nº 183 >>> Parece que, no cinema americano atual, há um beco sem saída para o qual todos os grandes diretores convergem: o humor – e o desejo de retratar “La Amérique profonde” (se é que essa expressão se adapta ao caso). Basta observar: pelo menos, quatro ou cinco nomes partem – desde o final da década de 1990 – para o pastelão. De Woody Allen (por força do contrato com a Dreamworks) até os Irmãos Cohen (agora sob o guarda-chuva da Touchstone Pictures). Passando por Quentin Tarantino (o único que não se rendeu totalmente à fórmula) e por Robert Altman (que oscila de acordo com o projeto em voga). E o “American Way”, nisso tudo? Woody Allen rodou um longa sobre a cafonice e a ignorância de uma família “emergente”; Quentin Tarantino estacionou seu imaginário na década que até hoje nos define (a de 70); Robert Altman ecoa mais quando emula (ou inspira?) David Mammet (e se prende a uma daquelas cidadezinhas do interior dos Estados Unidos). E os Irmãos Cohen, que eram alguns dos últimos cineastas por quem valia a pena sair de casa, não têm feito melhor. “Os Matadores de Velhinha” (atualmente em cartaz) é quase uma releitura de “A Fortuna de Cookie” (1999, de Altman). Tem também como protagonista uma “old lady” que, aparentemente inofensiva, dá um baile nas demais personagens. Ainda prevalece o virtuosismo em algumas cenas e, sim, eles domesticaram o Namoradinho da América, Tom Hanks – mas isso não basta para salvá-los de alguns clichês lamentáveis: um homem que sofre desarranjos intestinais; um quadro que muda de expressão conforme o entorno; criminosos que, para arrombar um cofre, cavam um túnel (igualmente presente em “Trapaceiros” [2000], de Woody Allen); e aqueles estereótipos mais chulos sobre raça, credo, classe e cor. Se não for coerção do estúdio, ou uma maldição que a todos assombra, pode ser – até (quem sabe) – uma crise, um surto geral de esterilidade. Aos quais todos estamos expostos. E, como o show tem de continuar (“the show must go on”), seguimos produzindo... – ainda que não tão convictos quanto antes (fomos). Talvez para não perder o sustento, e talvez para não perder simplesmente a mão. Enquanto a musa não vem; ou não (tão breve) retorna. E, se a inspiração foi a santa padroeira dos antes incomparáveis Irmãos Cohen, deve haver um jeito de fazê-la voltar. Pelo bem da sétima arte.
>>> The Ladykillers
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

busca | avançada
63387 visitas/dia
2,0 milhão/mês