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Terça-feira, 5/12/2000
O humor é como as marés, ora sobe ora desce

Julio Daio Borges




Digestivo nº 12 >>> José Saramago, o Nobel da língua portuguesa, publicou seu mais aguardado livro, A Caverna. Antes do prêmio, ele vivia de afirmar que 1 milhão de dólares não fariam a menor diferença para si e para os seus. Integridade como lema, e como sina. Tudo indica que ele tenha cumprido a sua promessa, não havendo portanto motivo para recriminação. O livro, porém, está muito aquém do que se esperava de um ficcionista (ou ensaísta, como costuma alardear) tão aclamado e tão adulado (nestas terras de além-mar). O infortúnio de Cipriano Algor, o sexagenário obrigado a se aposentar, arrasta-se por mais de trezentas páginas, e nada do mito da caverna de Platão (que supostamente justificaria o volume). Se Saramago quis metaforicamente evocar o duo ilusão-realidade através da rotina praticada pelo Centro (espécie de cidade-shopping-center), conseguiu apenas produzir um pastiche kafkiano de utilidade duvidosa. Que ele tenha lá seus cacoetes de crítico social e de costumes, é algo compreensível e até perdoável. Acontece que não há como preferir este Saramago ao Saramago d'O Evangelho Segundo Jesus Cristo ou ao Saramago do Memorial do Convento. A Caverna, por mais bem intencionada que se pretenda, não vale a epígrafe.
>>> "A Caverna" - José Saramago - 352 págs. - Cia. das Letras
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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