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Sexta-feira, 15/10/2004
The more you ignore me, the closer I get

Julio Daio Borges




Digestivo nº 197 >>> Há muito tempo que o mundo não dava atenção a Morrissey. Há muito tempo, também, que ele não emplacava uma declaração polêmica ou, mais prosaicamente, um hit. Com You Are The Quarry, na velocidade da publicidade, as provocações estão todas nos títulos: “America is not the world”; “I have forgiven Jesus”; “I’m not sorry”; “The world is full of crashing bores” etc. Como uma seqüência assim, a espera é por um álbum, no mínimo, bombástico. Mas não é o que acontece. A elaboração, sobretudo verbal, de um Vauxhall and I (1994) e mesmo de um Maladjusted (1997; considerado verborrágico) fica aqui em segundo plano. Claro que entre um verso da nova geração e um do quilate de “Let me kiss you”, por exemplo, ficamos com o último: “So, close your eyes/ And think of someone you physically admire”. (A geração Acústico MTV seria incapaz desse “physically admire”.) Na parte instrumental, também: a preferência é por batidas conhecidas e pela quase ausência de invenção. Nem sombra de Johnny Marr (sim, o fantasma ainda ronda). Em que pese a introdução de “Irish blood, english heart” (aliás, uma bela sacada política), a guitarra anda apagada, servindo apenas de base para acompanhamento. Bolando uma teoria da conspiração: é como se Morrissey se visse obrigado, pelo que restou das majors, a descarregar todo o seu witty de uma vez, num formato despojado e econômico – principalmente em termos de banda. Afinal, Morrissey, por mais que tenha posado de alternativo nos anos 90, é um dos últimos príncipes do pop. E do jeito que as gravadoras estão desorientadas, de repente pareceu um bom negócio ressuscitá-lo – como astro. Incluindo, até, verbas para marketing, entrevistas e capas de revista. O que dificulta bastante a crença nas idiossincrasias do ex-líder dos Smiths (não seria tudo uma lucrativa jogada para angariar novos e resgatar velhos fãs?). Na dúvida, a abertura de “I’m not sorry”, com uma pinta de “em busca do talento perdido”, surge como uma esperança para o futuro (ou não): “On returning/ I can’t believe this world is still turning/ The pressure’s on/ Because the pleasure hasn’t gone...”.
>>> Morrissey
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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