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Segunda-feira, 18/10/2004
Diarius ininterruptus

Julio Daio Borges




Digestivo nº 197 >>> Apoiado no entusiasmo de Paulo Markun, Mario Prata, prefaciando “O meu Pipi” (Ediouro), afirma que o futuro da literatura está nos blogs. Ele – que não entende muito de literatura, muito menos de internet, talvez um pouco de televisão – deu um belo de um chute, mas canhestramente pode ter razão. Na verdade, os blogs não estão “formando” escritores, mas na falta de um espaço para expor seus trabalhos em público, os últimos estão fazendo a fama dos primeiros, indevidamente. Ou seja: o blog como ferramenta é algo à beira da indigência, mas estamos vivendo uma época tal, de inversão de valores (principalmente artísticos), que os escritores (até mesmo os de verdade) estão apelando para a “blogosfera” para poder publicar. Aí aparece alguém como esse “Pipi”, cujo livro, uma reunião de posts, nos chega de Portugal com “tradução” de Prata. O tema é apelativo até não poder mais: o sujeito se diz especializado em “conas” (é preciso traduzir ou o sentido vocês conseguem pegar?) e desfila uma série de peripécias ao longo dos meses enquanto durou o blog. É um reality show sexual – e por escrito. São camareiras, estudantes do segundo grau, universitárias, mulheres casadas – todas passam pelo seu controle de qualidade, e Pipi faz a “crítica” da performance. É lógico que a maioria das histórias foi inventada e, mesmo que houvesse um fundo de verdade, não é aí que reside a graça. O que impressiona, na sua coletânea de barbaridades, é o fato do Pipi escrever bem demais – e ter de usar um expediente tão baixo para chamar a atenção (primeiro, o blog; depois, a temática; por último, o pseudônimo). Como vendeu 40 mil exemplares na terra de Camões, levantam-se suspeitas sobre sua identidade. Evidente que é escritor, ou jornalista, ou similar. Inclusive parodia Saramago e Lobo Antunes, habilmente, em algumas passagens. Não se consegue prever o seu “sucesso” no Brasil, é claro. Comparando com o blog na internet (ainda está no ar), longos trechos acabam lost in translation. Como verter, por exemplo, “zé tolas” (esse vocês sabem)? Não vai ser, tampouco, nossa “leitura de verão”. Mas fica como mais uma prova de que a literatura atual (seja de qual nível for) clama por urgente renovação.
>>> O meu Pipi - Pipi - 212 págs. - Ediouro
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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