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Segunda-feira, 1/11/2004
Travessia

Julio Daio Borges




Digestivo nº 199 >>> Élida Marques é o que hoje se chama de mulher-projeto. Como quase todos os artistas sem “emprego fixo” (isso ainda existe?), perambula entre uma realização e outra, entre uma idéia e outra, entre uma iniciativa e outra. Afinal, diante da crise para atores e músicos como Élida, existem duas atitudes possíveis: a criatividade ou a estagnação. Ela escolheu a primeira e, ao mesmo tempo em que permanece aberta ao teatro, toca projetos paralelos como o Tia Margarida e o Ler é uma Viagem. O Tia, como ela diz, percorre casas noturnas em São Paulo, com uma formação de grupo (duas vocalistas, incluindo Élida), e resgata a tradição perdida do samba, desde o início do século passado. Já o Ler, como ela enfatiza, é um esforço de levar a leitura a comunidades carentes e a escolas públicas, formando gerações de leitores por meio da escolha de grandes autores, em novas leituras através de performance quase cênica, com apoio percussivo e musical. Foi assim que Élida Marques e sua trupe divertiram uma platéia, há algumas semanas, na Casa das Rosas, na avenida Paulista. Entre um Lima Barreto e um Machado de Assis, um samba originalmente interpretado por Carmen Miranda ou um solo de clarineta lírico e perturbador. Isso só foi possível porque Élida, numa história que conta para quem quiser ouvir, conseguiu patrocínio da mineradora CBMM, de Araxá, e pôde elaborar cada frase, cada palavra, cada vírgula junto a seus músicos e colaboradores. Apresentou, inclusive, composições de amigos, pautadas na obra de Guimarães Rosa, enquanto encarnava o primeiro encontro entre Diadorim e Riobaldo. Seu desejo é tocar o Ler é uma Viagem também em 2005, estendendo sua abrangência (para outros pontos do Brasil que não apenas a periferia de São Paulo) e integrando ao grupo os colegas que, em edições esparsas, fizeram apenas “participações especiais”. Não é uma ambição de todo impossível, já que foi parcialmente realizada em 2004. Mas, além de admirável, é um trabalho árduo – ainda mais para quem “corre por fora”, na pele de produtora independente, como Élida Marques.
>>> Ler é uma Viagem
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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