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Segunda-feira, 15/11/2004
Coisa de acender

Julio Daio Borges




Digestivo nº 201 >>> Djavan musicalmente atravessou metade dos anos 90 e quase metade dos anos 2000 longe de suas potencialidades criativas em outras décadas. Como artista, quase obrigou seus fãs à desistência – algo que Gil e Caetano impuseram, a seus admiradores, mais ou menos na mesma época. Em outras palavras: como a obra atual dos Tropicalistas, Djavan era quase um caso perdido. Sua saída das majors, seu segundo casamento e agora o disco Vaidade, porém, provaram que não. Djavan ainda tem o que dizer; ou o que cantar. Virtualmente empurrado para a independência dos “selos”, parece ter recuperado a liberdade esquecida em lançamentos insossos e em seqüências anteriores de álbuns ao vivo. “Se acontecer”, que abre o disco e que desde algum tempo toca no rádio, por exemplo, aposta numa estrutura não muito palatável para os padrões de consumo fácil: múltiplas seções rítmicas, com variados andamentos e versificação sugerida mas não muito clara. E o que dizer de “Sentimento verdadeiro”, emulando as sessões de Kind of Blue, de Miles & Coltrane, com marcação difícil de ser seguida e frases entoadas no contratempo? A aposta em células básicas, sem quase nenhuma orquestração, como em “Mundo vasto”, parece que permitiram a Djavan um reencontro com sua veia de compositor – aquela que Jorge Vercilo, o clone ou o genérico (como a Veja fala), não consegue captar. E a guitarra está particularmente inspirada. É Max Viana? Claro que Djavan não se livra de bobagens novelescas como “Amor algum”, a própria “Vaidade” e “Estátua de Sal”, mas todas perdoáveis e perfeitamente compensadas por surtos de inventividade como “Celeuma” e “Tainá-flor”. E “Dorme, Sofia”, homenagem mais que descarada de um pai-babão, já está provocando muxoxos naqueles que vêem limites para os cruzamentos entre vida & obra. Na verdade, Djavan havia apelado para recursos similares e inclusive produzido uma bela peroração, em 1994, sobre o fato de ter sido avô (em dueto com a filha, Flávia Virgínia). Enfim, ainda que Vaidade não seja uma obra-prima, é saudável ver Djavan voltando à velha forma – e não se rendendo à indústria, que exige do artista a aplicação constante (e esterilizante) das mesmas fórmulas.
>>> Vaidade - Djavan - Luanda Records
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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