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Segunda-feira, 6/12/2004
História de uma gata

Julio Daio Borges




Digestivo nº 204 >>> Embora estejamos todos nos anos 2000, Vanessa da Mata é uma estrela típica da indústria fonográfica do final do século XX: preocupada com uma produção impecável, combinada com um marketing avassalador; excessivamente ocupada com a própria imagem, estudando cada aparição, cada gesto, cada fala...; tutorada por grandes nomes da realização artística contemporânea (ontem, Nelson Motta; hoje, Liminha). Todas as apostas então apontam no sentido de transformar a mato-grossense numa nova Marisa Monte. Esse quadro e essa desconfiança já seriam suficientes para descartá-la como artista – a não ser por um simples motivo: ela, ainda que fria e “montada”, é talentosa. E a prova está em seu novo álbum de estúdio: Essa boneca tem manual. Logo na segunda faixa, ela mostra que é boa intérprete, na correta gravação de “Eu sou neguinha?” (de Caetano). E logo na quinta faixa, a que dá título ao disco, ela mostra que pode ser igualmente boa compositora. A atual guinada mais pop, e menos MPB, nesse CD talvez soe mais como uma estratégia mercadológica para fazê-la emplacar, mas, no seu caso, caiu como uma luva. A diluição dos violões e da percussão provavelmente não seja mesmo tão condenável, e uma menor pretensão, musical, naturalmente casa com alguém que se assume, assim, tão... comercial. Essa boneca tem manual promove uma sessão de audição lúdica, prazerosa – sem querer reinventar o “cancioneiro” ou os ritmos brasileiros. Vanessa, mesmo que quisesse, não teria maturidade para tal – ela é nova –, mas a aceitação desse fato já a torna simpática, aos olhos (e ouvidos) daqueles que andam cansados das eternas gerações de “cantoras” nacionais... Se ela vai acabar, futuramente, em “tribalismo” infantil ou num autismo destrutivo (de quem perdeu o fio da meada em matéria de repertório) não há como adivinhar. Se ela vai “evoluir” para novos desafios “adultos”, tampouco. O lado bom e o lado ruim de Essa boneca tem manual é que o CD não permite extrapolações espaço-temporais – algo que pode torná-lo um álbum sábio, porém, ao mesmo tempo, tolo.
>>> Vanessa da Mata: Site | Entrevista
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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