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Segunda-feira, 24/1/2005
Olha que isso aqui tá muito bom

Julio Daio Borges




Digestivo nº 211 >>> Roberto Dávila tem se revelado um dos mais constantemente elogiados entrevistadores da televisão. Ao contrário da linha dominante que procura extrair do entrevistado conteúdos bombásticos, Dávila usa de muita educação e parcimônia, inquirindo com suavidade e praticamente deixando o interlocutor falar (coisa rara na atual disputa entre personalidades pelo horário nobre). Quem teve o privilégio de pegá-lo, outro dia, pela noite afora deve ter cruzado com outro personagem arguto e sagaz: Dominguinhos, o sanfoneiro e compositor. Foi um daqueles encontros inacreditáveis que geram dúvidas sobre a transmissão (será que vai sair do ar? será que está mesmo passando?). Dominguinhos, sempre muito modesto e simples em suas aparições, preferindo abrigar-se sob o guarda-chuva de celebridades musicais como Luiz Gonzaga, Gilberto Gil e Chico Buarque, mostrou-se vivíssimo e dono de um papo instigante, com divertidas histórias que poderíamos pedir para nunca mais terminar. Revolveu suas origens em Garanhuns, tocando ainda na infância em feiras, por sugestão da mãe e por impulso do pai (também músico). Evocou a topada de sorte com o Gonzagão, ainda no grupo do tempo de criança, quando recebeu do mestre um contato seu na capital carioca. Revisitou essas experiências em conjunto, quando o pai do Gonzaguinha, em crise, se dizia ultrapassado – e, ao mesmo tempo, encorajava o pupilo a subir no avião, pois, como falava, uma aeronave não podia cair se levava, no seu interior, artistas que trariam “alegria pro povo”. De Gil, recordaria a excursão com o “Xodó” – a canção quase roubada pelos americanos, antes de ser gravada pelo baiano. E de Chico, admiraria a organização: volta e meia o autor da “Banda” desenterraria uma fita, de muitos anos, cuja melodia, já esquecida por Dominguinhos, teria finalmente recebido letra. Roberto Dávila, apesar da contumaz elegância, se deixaria até inebriar pelo charme do convidado, sofrendo lapsos de desinformação, mesmo diante de deduções lógicas, como a de Dominguinhos sugerindo que Luiz Gonzaga teria surrupiado “Asa Branca” de Januário, seu pai. Fora tropeços muito sutis como esse, a conversa fluiu de maneira quase inédita hoje em dia. No meio de um incessante desfile de gente que não tem simplesmente o que dizer na tevê, foi recompensador escutar um músico que não sabe apenas tocar e cantar, mas, também, falar.
>>> Conexão Roberto Dávila - Dominguinhos (entrevista)
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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