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Segunda-feira, 7/3/2005
Every day you’ve been away

Julio Daio Borges




Digestivo nº 217 >>> Quando Bebel Gilberto surgiu com Tanto Tempo (2000), estávamos ainda sob os auspícios da virada do século. A bossa nova parecia fresca, redescoberta, sob a benção de uma nova era eletrônica, a ponto de Ruy Castro inventariar, no final daquele ano, os lançamentos que comprovavam um ressurgimento do gênero. Hoje, passada a euforia, sabemos que o casamento de João Gilberto com o drum’n’bass não foi propriamente uma novidade nem, também, um revival. Sim, uma outra geração foi apresentada, de uma maneira ou de outra, à musica maravilhosa dessa época, os anos 50 e 60, mas permanece a impressão de não se ter penetrado além da superfície das coisas. Assim, quando Bebel Gilberto reaparece, amparada por um novo álbum, o homônimo Bebel Gilberto (2004), não paira no ar mais o mesmo entusiasmo daqueles que viram, para a MPB, um renascimento. A bossa nova animou as pistas, e conseqüentemente, as baladas movidas a ecstasy, mas não foi fecunda, mais uma vez, como se pensou (e se desejou). Tirando uma Fernanda Porto ou outra – que já foge pela tangente com Chico Buarque –, o banquinho e o violão não colaram de novo. Dentro desse contexto, pode até ser agradável ouvir Bebel, habilmente, destilando essa mistura que consagrou ou ajudou a consagrar, mas o que se precisava é que ela fosse além – e não apenas se reciclasse ou reciclasse os outros (vide a eterna “Baby”, de Gal&Caetano). É louvável que o Brasil tenha uma cantora cool, no nível de Astrud, desenrolando tapetes vermelhos ao redor do mundo, mas se não se gera uma “descendência” aqui dentro, muito menos se gera lá fora. Grandes faixas desse Bebel Gilberto como “Simplesmente”, “Aganjú” e “River Song” trazem a lembrança de como o mundo era bom e de como o sonho acabou, mas são apenas lembranças e não nos transformarão.
>>> Bebel Gilberto
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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