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Segunda-feira, 27/6/2005
Dublinenses

Julio Daio Borges




Digestivo nº 233 >>> A Flip parece que consagrou, pelo menos para o mainstream, a conversa com escritores. E a Casa do Saber, que aparentemente se norteia pelo mesmo princípio, tem oferecido propostas nesse sentido. Um exemplo foi – meses antes do boom (da Casa) – o bate-papo com Cíntia Moscovich, hoje uma das nossas maiores escritoras. E outro foi, em maio último, o evento sobre Henry James com Colm Tóibín, aproveitando sua presença na Bienal do Rio, quando lá lançava O Mestre – relato entre biográfico e romanceado sobre o grande escritor americano, pela Companhia das Letras. Tóibín, por coincidência, era conhecido da Flip 2004. Lá, revelou-se um simpático nato, circulando por Parati em seus chinelinhos negros (de pés extremamente brancos), e distribuindo sabonetes de limão, arrancados de uma loja de dentro do Ulisses de Joyce, que ainda os comercializa em Dublin. Na ocasião, Tóibín leu praticamente um capítulo do Penguin Book of Irish Fiction, de sua autoria, claro – e convenceu até os mais céticos a visitar Leopold e Molly Bloom, com a ajuda da excelente dramatização de Regina Braga. Já na Casa do Saber, passeou pela casa de seus próprios pais na juventude, depois de uma reforma, enumerando cada detalhe – pois aquele cenário foi justamente palco de seu primeiro encontro, como leitor, com Henry James, em The Portrait of a Lady. E do mote autobiográfico pulou, como num passe de mágica, para as questões técnicas do romance. Relatou sua estada na biblioteca pública de Nova York até seu contato com a aristocracia russa (era necessário, pois James foi um aristocrata). Esmiuçou as relações entre Henry e seu irmão, William James; e entre Henry e seu pai – homem de muitas palavras, mas escritor de parcas realizações. Lembrou, divertido, dos dias em que acordava e – percorrendo os 5 anos em que transcorre o romance – se perguntava curioso: “O que Henry James fez hoje? O que pensou? O que registrou?”. Colm Tóibín encantou os circunstantes. Um dos sócios da Casa saiu comentando: “É um ator! É um ator!”... Que quase nenhum escritor brasileiro consiga a proeza de ser profundo e simpático ao mesmo tempo, todos já sabemos – mas que podemos contar com a Casa do Saber e com a Companhia das Letras para servir de entreposto (redentor), entre uma decepção e outra (como nossos autores), ficamos sabendo agora.
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Editor
 

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