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Quarta-feira, 13/7/2005
Medusado

Julio Daio Borges




Digestivo nº 235 >>> Mais do que analfabeto plástico, o brasileiro é analfabeto sólido, líquido e gasoso. Então, é louvável que se monte uma retrospectiva tão consistente de um escultor como a que se montou de Henry Moore na Pinacoteca do Estado. Para começar que, tirando Rodin, no Brasil ninguém sabe citar um escultor (e não um pintor e não um “instalador”) de memória. Nem brasileiro; nem Brecheret nem nada. Assim, é quase uma missão civilizatória trazer as obras de Moore e dispô-las didaticamente e, ao mesmo tempo, de maneira tão inteligente num espaço que é, apesar de distante e de acesso complicado, sobretudo agradável. A exposição soube, com muito bom gosto, combinar os trabalhos com observações do próprio realizador sobre esses mesmos trabalhos – esclarecendo técnicas, fomentando pontos de vista, justificado guinadas e posições estéticas em geral. Isso num passo suave e sugestivamente cronológico (como seria de se esperar de uma retrospectiva, aliás – mas que quase nunca é o caso...). Apesar de toda a abstração e da apreensão nem sempre imediata das peças enormes do escultor britânico, o visitante poderia sair de lá com melhores noções e até algum conhecimento do que se fez a respeito durante o século XX (Moore nasceu em 1898 e morreu em 1986). Os temas principais do artista estavam presentes, é óbvio. Desde a relação inesgotável entre mãe e filho até a sua obsessão pessoal com figuras de pessoas reclinadas, cuja inspiração lhe veio no metrô abarrotado de refugiados das bombas durante a Segunda Guerra. Passando pelas maquetes (e pelos desenhos) de projetos em elaboração e de pequenos objetos ou formas que ele coletava da natureza e que lhe serviam de guia para produzir volumes cada vez mais vivos e orgânicos. Suas fotos, e de seu ateliê, mostravam um homem surpreendentemente organizado e com aparência “em ordem” – ao contrário da imagem de artista que se quis perpetrar, e em que se quis acreditar, de uns tempos pra cá. E do mesmo jeito que Moore se revela, em sua vida, um homem não muito diferente de nós, a arte moderna, através de sua criação (e dessa retrospectiva ótima), se revela algo a nós não tão completamente estranho.
>>> Pinacoteca do Estado | Henry Moore
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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