busca | avançada
85620 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Quinta-feira, 27/9/2007
O célebre Ernesto Nazareth
Débora Costa e Silva

Depois de analisar, ouvir e estudar a canção (aqui e aqui), crítica musical, a poesia nas letras de música , Chico Buarque, Racionais MC's e João Gilberto, a última aula do curso de MPB do Espaço da Revista Cult viajou ainda mais longe no tempo. O músico e historiador Cacá Machado analisou a obra de Ernesto Nazareth e seus desdobramentos na história da música brasileira. O pianista, compositor de tangos brasileiros, viveu entre 1863 a 1934 e suas composições contribuíram na formação do que hoje é conhecido como chorinho.

Inspirado pelo conto de Machado de Assis, "O homem célebre", o historiador fez um estudo sobre a relação entre a vida de Nazareth e a do pianista fictício do texto, o Pestana. A análise deu origem ao livro O enigma do homem célebre. Ambos sonhavam em ser concertistas, mas o sustento e o sucesso vinham de composições mais populares (polca e maxixe). Nazareth, o entanto, foi muito mais além por ter criado um gênero a partir do maxixe: o tango brasileiro.

Cacá Machado apresentou três músicas para exemplificar as transições que Ernesto Nazareth fez entre um gênero e outro. "Você bem sabe" (1878), primeira composição do pianista, feita quando tinha apenas 13 anos, é uma polca tradicional. Dez anos mais tarde, compôs "Beija-flor", típica polca de salão (mais rápida e dançante) e em 1892 escreveu "Rayon D'or", considerada um marco, por ser uma polca-tango e apresentar um ritmo sincopado, depois classificado como "brasileirinho".

Nazareth é uma dessas figuras que depois que morreu se tornou um clássico, tanto na MPB quanto na música erudita. Isso aconteceu porque ele conseguiu entrar no repertório de concertistas ao mesmo tempo em que foi precursor de gêneros populares. "No Brasil, essa questão [entre música popular e erudita] é um nó cego e tenso, mas no sentido positivo. Acho bom ter esse nó e ele tem que se manter tenso, porque é daí que saem as coisas mais criativas da música. Mas eu particularmente não acredito nessa divisão", opina o historiador.

Mesmo reconhecendo a existência das diferenças entre um e outro, Machado acha que no Brasil os dois estilos se fundiram e se influenciaram muito, ao contrário do que ocorreu em outros países na mesma época. O maior exemplo da peculiaridade da história da música brasileira é o que se deu com a polca. Nazareth foi introduzindo um suingue, um ritmo sincopado nas polcas que compunha, aproximando-as do maxixe, até transformá-las em tangos. E o que veio em seguida foi o choro, o samba... Gêneros genuinamente brasileiros.

Para ir além
Espaço da Revista Cult

Débora Costa e Silva
27/9/2007 às 18h53

 

busca | avançada
85620 visitas/dia
2,0 milhão/mês