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Quarta-feira, 30/10/2013
Sobre música e médicos
Eugenia Zerbini

Henry Perrowne, personagem de Sábado, romance de Yan McEwan (Cia das Letras), é médico. Além de gostar de cozinhar, como já foi escrito aqui no Digestivo Cultural, Dr. Perrowne, neurocirurgião, ouve música erudita durante as cirurgias.

"De resto, gosta de música no centro cirúrgico, quando está trabalhando, sobretudo obras de Bach para piano - as Variações Goldberg, o Cravo bem temperado, as Partitas. Prefere Angela Hewitt, Martha Argerich, às vezes Gustav Leonhardt. Quando se encontra num estado de ânimo excelente, até admite ouvir as interpretações mais descontraídas de Glenn Gould".

Neste último ponto, quem sabe McEwan esteja errado: descontraídas é adjetivo que menos cabe nas interpretações de Glenn Gould. Porém, em um mundo de especialistas, é reconfortante saber que há doutores que gostam de música erudita na sala de operações. Maravilhoso é saber que existem médicos que não só apreciam, mas também praticam um instrumento, formando uma orquestra.

Apresentou-se ontem, no auditório do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), a filarmônica integrada por seus médicos. A formação, sob a direção artística e regência do maestro Nasari Campos, irá completar 25 anos em 2014. Os ensaios semanais ocorrem no próprio hospital. São abertos aos pacientes, seus acompanhantes e visitantes. Foi emocionante ouvir, antes do espetáculo (retransmitido ao vivo para os quartos dos pacientes), as palavras de apresentação ditas por um dos violinistas, médico pediatra.

A orquestra brilhou na primeira peça do programa, The syncopated clock, de Leroy Anderson, e nas que integraram sua segunda parte: orquestrações de clássicos do repertório popular norte-americano, como Moon River (Henry Mancini) e Salute to Ol'Blue Eyes (uma montagem organizada por J. Moss dos temas eternizados por Frank Sinatra, entre eles I've got you under my skin, do non plus ultra Cole Porter).

Talvez esteja aí a verdadeira vocação dessa orquestra, o que em nada a desqualifica. A verve que jorra de cada dessas canções sem idade estimula o coração e a fantasia de quem as escuta, a exemplo do sucesso que fazem as gravações de intérpretes recentes (como John Pizzarelli, Michael Feinstein, Rod Stewart e Sinnead O' Connor) desses hoje clássicos standards. A carreira de George Gershwin foi trilhada com dois pés: um no erudito, outro fora das salas de concerto. Assim, deixou para nós jóias como S´wonderful, Someone to watch over me, The man I love, Love is here to stay e It's a foggy day.

Palmas para a louvável iniciativa. E saúde para a Orquestra Filarmônica dos Médicos do Hospital Israelita Albert Einstein, em vias de completar um quarto de século.

A seguir, a gravação da Orquestra Filarmônica dos Médicos do Hospital Albert Einstein, em concerto de 25 de novembro de 2010, interpretando um poutpourri de composições de Leroy Anderson (entre elas a peça que abriu o espetáculo de ontem).




Eugenia Zerbini
30/10/2013 às 17h51

 

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