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Quinta-feira, 24/1/2013
Livros na ponta da língua
Eugenia Zerbini
+ de 5900 Acessos


Georges Braque, Natureza morta com o jornal "Le jour" (1929)

Como todas as manifestações das artes, os livros são alimento da alma (termo quem sabe polêmico, pode ser substituído, entretanto, por razão, inteligência ou humanidade). De modo curioso, ocorrem às vezes intersecções interessantes entre alimento e o próprio enredo do livro. Longe dos livros de receita, há casos na literatura em que a comida desempenha um papel importante para o leitor e suas fantasias.

Só na literatura brasileira, quantos leitores em formação não se fascinaram com as histórias escritas por Monteiro Lobato e com os bolinhos preparados por Dona Benta para a trupe do sítio do Picapau Amarelo? Que bolinhos eram esses? Aqueles conhecidos como "bolinhos de chuva"? Polvilhados com açúcar ou recheados de creme, como sonhos? Para os intrépidos que chegaram aos últimos volumes da coleção, variações em torno de temas da mitologia grega, o desafio era recriar o gosto das refeições dos deuses, que se alimentavam de ambrosia e hidromel. Será que os Divinos comiam aquela sobremesa prosaica a base de ovos, leite, açúcar e canela? Não, para outorgar a imortalidade aos humanos que a provasse, ambrosia deveria ser outra coisa.

A mesma curiosidade ataca quando se parte para outros cânones da língua portuguesa (assim é, uma vez que matéria de exame vestibular). Eça de Queiroz, em A cidade e as serras, incumbe à prima caipira dar o golpe de misericórdia no coração do sofisticado Jacinto de Tormes, servindo-lhe arroz doce. Segundo o autor, não aquele acanalhado, preparado em Paris pelo chef de Madame de Oriol, amante de Jacinto. Mas aquele singelo, resultado da soma de fogo baixo, arroz, leite, açúcar e canela (tem leitora que aposta que deveria haver um zest de casca de limão).

Voando mais alto, dirigido por escolhas próprias, o leitor gourmet pode muito bem esbarrar no robusto pot au feu, nas páginas de Jacques, o fatalista, de Diderot (mas será mesmo apenas um cozido?) até chegar ao frescor do mint julep, bebida favorita de Daisy Buchanan, no Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald (folhas de hortelã esmagadas com açúcar, muito gelo picado e bourbon) .

Entre os contemporâneos, Ian McEwan é um dos autores que mais espaço dá em suas obras para a comida. Em Sábado, cujo enredo se desenrola no início do século XXI, o personagem principal, médico, vai para a cozinha, preparar uma sopa de peixe para noite:

"Ele esvazia o final de um Côtes Du Rhone num copo, liga a tevê sem o som e se põe a descascar e picar três cebolas. Sem paciência para as cascas, semelhantes a folhas de papel, faz uma incisão profunda, força o polegar até quatro camadas de profundidade e as arranca, desperdiçando quase um terço do conteúdo da cebola. Pica rapidamente o restante e espalha dentro de uma panela com bastante azeite.
.................................................................................................................
Na palma da mão, esvazia várias pimentas vermelhas secas, retiradas de um frasco, esmaga-as entre as mãos e deixa que as lascas caiam com as sementes, e se juntem às cebolas e ao alho. O noticiário da tevê começa, mas ele não aumenta o volume. É a mesma tomada do helicóptero, feita antes de anoitecer, a mesma multidão ainda enchendo o parque, a mesma celebração geral. Em cima das cebolas e do alho amolecidos - pitadas de açafrão, algumas folhas de louro, casca de laranja ralada, orégano, cinco filés de anchova, duas latas de tomates sem casca".


Georges Braque, Natureza morta com ameixas roxas (1935)

Em Reparação, que se passa às vésperas da 2ª Guerra Mundial, o sinal que um determinado jantar, a princípio festivo, seria o prelúdio para uma tragédia é disparado quando a dona da casa manda a cozinheira transformar as batatas assadas em salada. O cocktail servido antes da refeição não deixa por menos. É apresentado como uma "substância marrom viscosa" que não ficara muito revigorante "apesar do acréscimo posterior de hortelã picada a uma mistura de chocolate derretido, gema de ovo, leite de coco, rum, gim, banana amassada e açúcar de confeiteiro".

Em Na praia, ambientado nos anos 1960, como prenúncio do desencontro entre os noivos durante a lua de mel, basta a descrição da ceia que lhes é oferecida pelo hotel assim que desembarcam:

"Aquele não era um bom momento na história da culinária inglesa, mas na época ninguém se importava muito, à exceção dos visitantes estrangeiros. A refeição propriamente dita começou, como costumava acontecer naquele tempo, com uma fatia de melão decorada com uma cereja cristalizada. Do lado de fora, no corredor, fatias de um velho rosbife requentado em um molho espesso, legumes cozidos e batatas azuladas aguardavam, em travessas de prata sobre réchauds a vela. O vinho era francês, embora nenhuma região particular fosse mencionada no rótulo, ornado com uma única andorinha que voava como uma flecha".

Comparando os três trechos, definitivamente os ingleses aprenderam a comer e beber. Não que o talentoso Mr. McEwan seja um J.M.Simmel (por sorte dos leitores). Este último, em uma de suas obras mais conhecidas - o divertido Nem só de caviar vive o homem - chega a transcrever as receitas que seu personagem, espião por acaso, prepara nas situações mais inusitadas. Tanto a qualidade do romance como das receitas nele contidas são inquestionáveis. Não tiram a força, porém, da fixação do autor de Sábado, Reparação e Na praia pelos assuntos degustativos. Nisso, afinal, ele não estaria errado, já que, nas palavras de Brillat-Savarin (Fisiologia do gosto), mais faz pela felicidade do gênero humano a descoberta de um novo prato que de uma nova estrela.



Eugenia Zerbini
São Paulo, 24/1/2013

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