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Terça-feira, 24/11/2009
A deliciosa estética gay de Pierre et Gilles
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 30100 Acessos
+ 1 Comentário(s)

"Nós amamos idealizar, mas falamos também da morte, do mistério e do absurdo da vida. Há tanto de doçura quanto de violência em nossas imagens." (Pierre et Gilles)

A emancipação dos homossexuais e sua ascensão a uma identidade individual e coletiva trouxe reflexos tanto na vida sexual e sentimental dos gays como na sua produção cultural. Não é de hoje que a cultura homossexual se expressa através da arte, ora com uma certa liberdade, ora com disfarces. Podemos ver "o amor que não ousa dizer seu nome" presente nas esculturas gregas com seus jovens idealizados como uma beleza suprema, em Michelangelo com seu Davi encarnando o mesmo ideal, no Fauno de Barberini escancaradamente homoerótico (foto da escultura abaixo) ou no velado homoerotismo do São Sebastião de El Greco.

Na literatura, desde Balzac (na sua novela de temática lésbica A menina dos olhos de ouro), até Baudelaire (que inicialmente chamou As Flores do Mal de As lésbicas, expondo o lesbianismo no poema "Mulheres malditas") e Oscar Wilde, com sua vida e estética, passando para Proust e posteriormente Genet (que teve seu livro Querelle divinamente filmado por Fassbinder). Ainda Thomas Mann, com seu Morte em Veneza, filmado por Visconti. Perto de nós temos, para ficar com apenas um exemplo cinematográfico, a paixão homossexual no belíssimo O Segredo de Brokeback Mountain.

Essa cultura, após a libertação gay, vai se expandir de forma variada e pública, seja no transformismo de David Bowie e Jagger, seja na androginia de Michael Jackson ou no lesbianismo fashion de Madonna e outras cantoras da música pop ou seja na fotografia de Mapplethorpe, com seus sensuais Black nude man, que vai impor um padrão de recuperação mais ousado para a beleza, sensualidade e potência da forma física masculina, erotizando-a para o gosto do publico gay. Os exemplos poderiam se multiplicar aos milhares.

Essa cultura é indissociável das transformações religiosas, científicas e sociais, da liberação progressiva dos meios e desejo dos artistas se exprimirem livremente, fazendo aparecer uma arte cuja representação homossexual é sugestiva, provocante e corajosa. Antes escandalosa e perseguida, agora, após a invenção da sexologia, o apelo cultural do corpo, as audácias literárias e cinematográficas e as renovadas leituras da história da arte, a cultura homoerótica não só é aceita, mas bastante respeitada.

Já dentro de um registro mais alegre (nem sempre), livre, divertido e pastichizante temos a arte dos artistas gays Pierre et Gilles (é como se autodenominam). Os franceses Gilles Blanchard (pintor) e Pierre Commoy (fotógrafo), além de formarem um casal, criaram uma parceria artística unindo fotografia e pintura. Os dois se conheceram em Paris em 1976 e desde esta época não pararam de produzir imagens intrigantes e divertidas.

Através principalmente de sua relação com a cultura pop e o entrelaçamento desta com imagens da arte europeia e a cultura de massa, permeada por uma adesão crítica à estética pornô soft, aos ícones do catolicismo, ao mundo da publicidade e dos objetos kitsch, criaram um grupo de obras que pode ser classificado como "estética homoerótica".

Além de fotografar ícones da cultura contemporânea como Madonna, Gautier, Deneuve, Nina Hagen, Naomi Campbell, Marilyn Manson entre outros, a dupla investe na iconologia gay de uma forma bastante interessante.

A técnica utilizada é a da colagem, do printing, da interferência da pintura na fotografia.

Uma das últimas obras dos artistas é o Saint Sebastien de la Guerre, criada especialmente para a mostra que fazem este ano no Rio de Janeiro, cidade que tem como seu patrono o São Sebastião (também santo protetor do Movimento Gay). Na obra aparece o retrato de um negro pelado, com cinco flechas incrustadas na carne, como São Sebastião, com quepe e lenço de marinheiro, tendo ao fundo navios e aviões de guerra, misturados a uma grande fumaceira escura. Trata-se de uma referência dupla: o corpo jovem, adolescente, em sua perfeita forma física, remetendo à escultura clássica-profana, e a imagem de um santo, ícone da cultura católica barroca. A novidade é que agora trata-se de um corpo de um negro, sexualizado à maneira de Mapplethorpe, trazendo o velho e batido clichê da potencia sexual dos homens negros. Outra referência é o marinheiro Querelle, do romance homossexual de Jean Genet filmado por Fassbinder.

A obra reúne sentimentos variados. Desde a paixão pela irresistível beleza máscula do corpo adolescente, configurando-se numa sensualidade ímpar, até o sentimento de terror, que nos aguarda assim que olhamos para o fundo da imagem. Duas dimensões da vida, acidamente construídas num único espaço. Nosso desejo, princípio da vida, unido à ideia perturbadora da morte, gerada pela guerra. Não sabemos se nos entregamos ao doce deleite erótico do corpo masculino ou se deixamos nossa mente ser confiscada pela morte anunciada. A própria flecha, ferindo momento tão belo da natureza, perturba um pouco nosso deleite. Mesmo a pintura, acrescentada à foto, nos transmite uma ideia mágica, de distanciamento, como se a imagem fosse inalcançável.

Segundo os artistas, eles gostam de misturar numa única obra "todas as cores, não só as da moda, cores da arte, da cultura popular. Mas somos mais visuais que literários. Mas adoramos misturar as coisas, como vários sabores diferentes numa cozinha".

Há também nas imagens criadas por Pierre et Gilles algo de industrial, como se a pele fosse algumas vezes plástica e outras vezes metalizada, e contendo ainda algo que nos remete ao corpo submetido a uma luz sublime, espiritualizada, como em Caravaggio.

O interessante é que essas imagens não são apenas cópias do mundo massificado, preocupado apenas em enredar nossas consciências num conformismo mercadológico. Ao contrário, elas trazem uma inquietação permanente. Ambíguas por excelência, unem ao prazer a dor, à alegria o espanto, ao nonsense a tragédia.

A obra dos artistas tem muito a ver com nosso país; segundo o curador da exposição no Brasil, Marcos Lontra, ela "esbanja sensualidade e tem uma representação multiétnica. A forma com a qual eles transformam seus modelos, criando todo um universo além da fotografia, lembra um pouco o carnaval". Sim, um festival de sensualidade no arenoso terreno da violência social.

A identificação não para por aqui. Segundo Gilles, "no Japão, alguns se identificaram com a mistura de violência e suaves das nossas telas. Na Rússia, com a referência aos ícones de santos ortodoxos. Aqui, podemos notar, além das imagens religiosas, a sensualidade, a leveza, mas também esse lado triste da saudade, que fazem parte do nosso universo".

Pierre et Gilles têm um olhar contemporâneo sobre as diferenças na sociedade e sobre a religiosidade. Revelam aquele amor que antes não ousava dizer seu nome, mas que agora diz: o amor homossexual. Mas também têm um desejo de valorizar o uso cruzado das novas técnicas industriais. E a obra deles é o resultado crítico desse encontro entre reflexão social e uso de novas tecnologias. As imagens são trabalhadas como cenários cuidadosamente compostos e com cores suntuosas, no que podemos chamar de movimento da fotografia plástica, que quer trazer para a fotografia o valor que tinha antigamente os quadros.

A diferença é que esse valor não trás mais a séria ideia de invenção (técnica e pensamento), tão cara à tradição, mas uma comunicação direta, como a da estética de massa, usando materiais e imagens por vezes não artísticos, livres de qualquer objetividade, apostando no antiintelectualismo, na superfialidade dos meios, na efemeridade da comunicação ― fim do culto, emotivo, superior e eterno.

Uma arte mais para decoração de cabaré de terceira ou presépio kitsch de época de natal do que para a Igreja de São Pedro em Roma. Na sua base, a ironia como crítica, o ajuntamento de fragmentos como método. Como disse Nicolau Sevcenko sobre o pós-moderno: "apenas um castelo de areia, frágil, inconsistente, provisório, tal como todo ser humano. Um enígma que não merece a violência de ser decifrado".

Para ir além
O Rio de Janeiro apresenta pela primeira vez no Brasil a exposição Pierre et Gilles: A Apoteose do Sublime. A mostra faz parte das comemorações do Ano da França no Brasil. Serão expostas 26 fotografias dos artistas, de tiragem única e de grandes dimensões. As imagens, de grande poder formal e sensualidade, foram produzidas nas décadas de 80, 90 e já nestes anos 2000. A curadoria é de Marcus de Lontra. Endereço: Rua Dois de Dezembro, 63 ― Flamengo ― Rio de Janeiro. De 10 de novembro de 2009 a 17 de janeiro de 2010.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 24/11/2009

Quem leu este, também leu esse(s):
01. A morte anunciada dos Titãs de Luiz Rebinski Junior
02. Uma caixa grande demais de Marcos Visnadi
03. Benjamin e Baudelaire de Maria João Cantinho


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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
2/5/2010
13h14min
Estou pesquisando sobre Pierre et Gilles. É difícil encontrar textos inéditos ou autorais sobre eles na internet. O que encontramos é sempre cópia da cópia. Um site copiando outro. Finalmente aqui encontrei algo novo. Infelizmente eu não concordo com a maneira como a obra da dupla francesa foi aqui analisada. De qualquer maneira vale pela originalidade.
[Leia outros Comentários de Branco Chiacchio]
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