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Sexta-feira, 17/6/2005
Substituição de deuses
Julio Daio Borges

É uma situação bastante perceptível, deveras. Moro há cinco anos em Londres e aqui é igual, talvez haja pequenas diferenças culturais envolvidas, contudo a essência é a mesma. O que noto é que existe uma febre de ser famoso. Moro perto de um lugar que está ascendendo culturalmente, a Brick Lane. Lá é notório o vai e vem de wannabes, como dizem os ingleses. Hoje parece que tudo gira em torno dos famosos. Se você conhece alguém famoso você está incluído na lista da nobreza; ser famoso, ou conhecê-los, abre as portas da oportunidade; ser famoso lhe dá poderes especiais, acima dos míseros mortais; o famoso, além de ganhar muito dinheiro, sobretudo trás; ser famoso é sinônimo de impunidade; pedófilos famosos não vão pra cadeia. Pra mim o que acontece é só uma substituição de deuses, vão-se os gregos, os romanos, os cristãos, e surgem os tecnológicos. Cultura, sem dúvida, molda sociedades, e o trunfo coporativo é que cada casa têm uma televisão, se não mais, fazendo nossas cabeças. Esta era será lembrada pela explosão da mídia de massa, pelos reality TVs, onde o Zé Ninguém se torna famoso. Esta era é só um reflexo da incapacidade que nós temos de separar o artista da arte; é só um reflexo da preguiça mental causada pela informação esmiuçada. Quero ver quem vai reverter esta situação, quem poderá inserir na cabeça das pessoas que o mundo não é um enlatado da sessão da tarde; este sim ficará famoso.

Gunther Schwarzbold, por e-mail.

Julio Daio Borges
17/6/2005 às 08h12

 

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