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Sexta-feira, 8/12/2006
Sobre o Digestivo, minhas colunas e nossa história
Lucas Rodrigues Pires

O Digestivo chega aos seis anos. Pelos meus cálculos, portanto, no ar desde o ano 2000. É um orgulho dizer que minha colaboração com o site criado e desenvolvido pelo editor Julio Daio Borges vem desde junho de 2002. São quatro anos e meio de colaboração, parte deles como colunista, parte como colaborador eventual. Os rumos que a vida nos direciona fazem com que tenhamos de abrir mão de certas coisas - escrever quinzenalmente para o Digestivo foi uma delas. Mas de outras não abrimos - ler o Digestivo é uma delas.

Hoje, sou tanto um leitor como um colaborador do Digestivo. O trabalho jornalístico faz com que naveguemos em diversas direções, mas sempre há aquele caminho guardado no coração, aquele assunto pelo qual o jornalista mais se interessa e gosta de escrever. Por necessidade (leia-se, dinheiro) quase sempre não escrevemos sobre o que mais gostamos. Por prazer, sim, escreve-se sobre o que se quer e se gosta. Escrever por prazer foi o que fiz em dois anos e meio para o Digestivo como colunista fixo.

E sobre o que escrevia? Sobre cinema, quase sempre cinema brasileiro, esse bicho mal-visto pelo brasileiro, renegado mas que está cada vez melhor. Foi no Digestivo que escrevi livremente sobre filmes de grande repercussão no período - como Carandiru, Cazuza - O Tempo Não Pára e Olga -, sobre filmes de estrelas populares da televisão, como Renato Aragão e Xuxa. Mas creio que os melhores textos são justamente sobre os filmes pouco vistos, aqueles sem muita ou nada mesmo de publicidade e público. E, aqui, aponto alguns deles como os melhores filmes brasileiros dos últimos anos: Nina, de Heitor Dhalia, De Passagem, de Ricardo Elias, Benjamim, de Monique Gardenberg, O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca, O Outro Lado da Rua, de Marcos Bernstein, Narradores de Javé, de Eliana Café, e O Prisioneiro da Grade de Ferro, de Paulo Sacramento... Como espectador e estudioso do cinema brasileiro, não podia deixar de escrever sobre Glauber Rocha, a figura mais emblemática e discutida do cinema brasileira, coisa que fiz em três oportunidades (aqui, aqui e aqui) e, depois da última, recebi do Editor um e-mail sugerindo que não mais falasse de Glauber (risos). Glauber mesmo há 25 anos de sua morte continua a gerar debate.

Assim foi minha trajetória, de altos e baixos. Lembro da minha primeira coluna - sobre o filme Onde a Terra Acaba, de Sérgio Machado, documentário sobre Mário Peixoto e seu mítico filme Limite. Qual não foi minha decepção ao ver o baixíssimo índice de visitas ao texto. De fato, se contar que nem todos que clicam e abrem a página lêem o texto, deduzo que tal texto não foi lido por ninguém mais além do Editor e de seu autor! Só mesmo o Editor para me acalmar e explicar que no começo era assim, que o colunista é pouco conhecido e demora algum tempo até criar certo nome no site e conquistar seus leitores. Qual não era também minha inveja do colunista Alexandre Soares Silva, cujas colunas bombavam em pageviews com seus textos polêmicos. Todo escritor quer ler lido, o ego é algo perigoso entre jornalistas e escritores.

Mas e não foi que logo minha vez de star chegou? E hoje, ao rever minhas colunas para escrever esta coluna, vejo que meu texto sobre o filme Olga, de Jaime Monjardim, está com quase 10 mil visitas, meu recorde. Sim, repito, quase 10 mil visitas. E minhas exatas 50 colunas (esta é a de número 51) receberam quase 100 mil visitas. É um número expressivo se levarmos em conta que praticamente escrevi apenas sobre filmes brasileiros (claro que tivemos diversos outros assuntos, mas eles foram abordados geralmente em Especiais, como o sobre a Seleção Brasileira, Legião Urbana, Eleições e mesmo a cobertura do Festival de Gramado de 2002 e o Fórum Social Mundial de 2005). Aliás, a coluna de número 50, no especial de Eleições, é dos textos que eu mais gosto e me orgulho de ter escrito. As aproximações políticas que, devido ao estudo do cenário político dos anos 50 e 60 para trabalhos paralelos, consegui traçar com a política atual formam um texto já mais maduro, ligado a outro interesse crescente meu, a História política do Brasil, que espero possa render diversos livros (saiu apenas o primeiro).

O aniversário de 6 anos do Digestivo faz com que avaliemos a relação estabelecida entre diversos atores - o colunista/autor, o site, o Editor e os leitores são os principais. É interessante pensar que, no Digestivo, o funcionamento não é a tradicional redação de veículos impressos ou mesmo televisivos e radiofônicos. Tudo é feito e acertado pela própria internet, poucas vezes encontrei pessoalmente o Editor para conversar a respeito das coisas. E, na maioria delas, discutíamos outras publicações, livros, jornalistas da área cultural, mas muito pouco o Digestivo em si.

Isso me leva a relembrar outra diferença com os veículos midiáticos tradicionais - a definição de pauta. No Digestivo, escrevia sobre o que me propunha a analisar, sem interferência alguma. Sempre fui livre para decidir sobre o filme que queria escrever e a opinião que iria emitir. E olha que politicamente pouco tenho afinidades com a maioria dos colaboradores do Digestivo.

Não sei se por essas razões ou por outras que o Digestivo chega à idade escolar. Provou no decorrer desses anos que sua proposta não é apenas uma "onda", como diversos sites que nasceram e morreram em tão pouco tempo, como mesmo as empresas convencionais. Destas, mais de 50% fecham as portas em menos de um ano. O Digestivo completou seis anos, creio que ele não corre mais risco de vida, a turbulência passou. Agora é trabalhar para chegar aos 12, aos 18, aos 24, até quando tiver algo a dizer. Por enquanto, tem de sobra e isso é valioso para os dias atuais.

Lucas Rodrigues Pires
São Paulo, 8/12/2006

 

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