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Quarta-feira, 6/12/2006
Greatest hits em forma de coluna
Ana Elisa Ribeiro

Tenho, no contador da minha coluna, quase 100 mil acessos. Mais detalhadamente, posso ver que são acessos de tudo quanto é canto do mundo. Meus top hits, claro, são colunas sobre sexo. A mais visitada delas é "Ler muito e as posições do Kama Sutra", publicada em 2004, quando eu já contava um ano de Digestivo Cultural. Só para esse texto, são quase 7 mil acessos. É claro que a maioria vem do Google ou apontada por outro buscador. É que as pessoas digitam "sexo" ou querem saber mais sobre o Kama Sutra e caem logo sentadas no meu colo. E se decepcionam porque o texto não tem nada de tão erótico assim. De Kama Sutra o texto não tem mesmo nada. E, para falar a verdade, acho que a idéia era brincar com as posições em que se lê um livro.

Outra coluna muito lida é a "Autor não é narrador, poeta não é eu-lírico", com uma pitadinha de teoria da literatura. O negócio é que muito professor de português ou de literatura nas escolas de todos os níveis aparece para comentar ou para pedir para empregar o texto em sala de aula. Claro que autorizo. Ter uma coluna aqui (e em quase qualquer lugar) é ter uma função social. Mesmo que ela não seja revolucionária, é micropolítica, certo? Então se o professor usa o texto para discutir com os alunos, nem sempre concordar com tudo o que está posto lá, é gol para mim. Foi com essa coluna que conheci, por e-mail, o Leo Cunha, professor de um Centro Universitário na capital mineira e autor de muitos e premiados livros infantis. E isso não é bom?

O texto "Mulheres de cérebro leve" faz sucesso até hoje. Ele me surgiu quando eu revisava um livro de História da Enfermagem (que já saiu publicado faz tempo) e fiquei fascinada pelas crenças da ciência no final do século XIX e início do XX a respeito da capacidade das moças para o trabalho intelectual. Logo que se publicou este mini-ensaio no Digestivo, ele saiu no jornal Estado de Minas, onde colaboro faz alguns anos, embora não regularmente. Semanas depois, o Correio Braziliense pediu o texto e pronto, voou mais longe ainda aquela minha alegria.

Outro texto cheio de acessos é "Saudade...", uma crônica doída sobre algo que me acontecia antes de meu marido vir morar em BH. Acho que muita gente se identifica, não sei. Talvez a saudade seja universal. E eis uma característica das minhas colunas: a subjetividade. Quando Julio Daio Borges me telefonou convidando para escrever aqui, minha condição foi prática e exata: só se não tiver pauta. De vez em quando, tudo bem, até que vai, mas sempre... seria como ter que escrever um poema por dia. Difícil.

E era isso mesmo o que o editor do Digestivo queria. Ele conhecia meu texto do blog Estante de Livros, que anda meio desativado por falta de paciência da proprietária para escrever todo dia uma notinha. E lá naquele espaço mínimo e tão íntimo, Julio admirava minha porção exposta. Até hoje ele tem saudades do texto explosivo daqueles idos de 2003. E mesmo tendo alterado minha rota, meu texto ainda é muito calcado nas histórias pessoais. Muita vez fiz ficção, outras tantas uma confusão entre o que ouvi e o que inventei.

O texto "Pessoas digitais" tem 1500 acessos, não é nenhum top of mind, mas caiu no vestibular do CEFET-MG, em Belo Horizonte. Foi engraçado ler aquelas questões sobre o que eu disse, a construção do texto, a estrutura dele. Nem sei se eu mesma tiraria nota total naquela prova.

Talvez o texto que tenha provocado mais a participação do leitor nos comentários tenha sido o recente "Eu dirijo, e você?", que escrevi para bater papo com meu amigo Carlos Herculano Lopes. Dica dele, que havia publicado, no Estado de Minas, um texto dizendo que não dirige. E não sabe guiar mesmo, porque sou uma das caroneiras preferidas do escritor. Uma honra. Naquela crônica de terça-feira, Herculano me citava como uma motorista de mão cheia. E não é que minha crônica também animou os ânimos de muita gente?

Daqui deste Digestivo conheci muita gente, troquei idéias com mais tantas, tornei-me colaboradora de outros lugares, saiu uma revista de papel. Esta ilha que me deram de presente virou meu cantinho de escrever. Deixo os textos bem adiantados e o editor vai decidindo quando vai cada um para o ar. É meu recanto. Tenho aqui um compromisso. E vi Julio Daio Borges de perto apenas uma vez!

O Digestivo não foi meu estágio probatório nem minha vitrine para demonstração de habilidades ensaísticas. Quando vim para cá, tinha a intenção de adotar uma reserva ecológica. Minha sobremesa. Delícia. Daqui saiu um livro de crônicas que esquenta em algum forno editorial.

Mas não acho justo falar apenas dos top hits. Meu texto menos acessado é um assim: "Publicar um livro pode ser uma encrenca". Vejam só, parece que ninguém quer desanimar, perder as esperanças de lançar um dardo neste palheiro que é a literatura contemporânea. O barato da Internet é este mesmo: os mais e os menos acessados nunca estão parados, esquecidos na estante. A qualquer momento, podem ser úteis. Basta clicar. Longa vida para o Digestivo Cultural.

Ana Elisa Ribeiro
Uberlândia, 6/12/2006

 

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