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Quinta-feira, 28/12/2006
Lições de um Digestor veterano
Gian Danton

O Digestivo fez 6 anos; eu ia escrever sobre a Quinta Geração de Colunistas do site; e eu queria, claro, um depoimento de cada um que participou. Ao contrário do que fizemos nos outros anos, enviamos algumas perguntas para incentivar os depoimentos de Colunistas, ex-Colunistas e Colaboradores. Alguns escreveram textos corridos; outros responderam diretamente às perguntas. Para não ficar, assim, uma "entrevista" solta (abaixo), achei por bem dar este esclarecimento inicial. Boa leitura! - JDB

1. Como começou sua história com o Digestivo Cultural?

Eu já conhecia o Digestivo Cultural e lia algumas colunas. Parece-me que cheguei a mandar um ou dois textos (maldita memória!). Um dia, para minha surpresa, recebi uma ligação do editor Julio Daio Borges me convidando para ser colunista fixo. A proposta era de uma coluna quinzenal, mas eu, guloso, propus uma coluna semanal. Fiquei curioso para saber como viera o convite e soube que fui indicado pelo Rafael Lima, que nem conheço pessoalmente, mas já era um leitor dos meus textos na Internet.

2. Como foi escrever para o site?

Foi um aprendizado e, ao mesmo tempo, uma loucura. Uma loucura porque manter uma coluna semanal, tendo como base principalmente resenhas de livros é muito difícil. Quem consegue ler um livro por semana e escrever uma resenha? Felizmente, eu alternava resenhas com artigos, mas mesmo assim era uma resenha a cada 15 dias. Aprendizado porque eu conhecia muito pouco de edição de HTML, e no Digestivo éramos nós mesmos que formatávamos nossas páginas. Além disso, no Digestivo do início, antes dos trolls tomarem conta, havia uma saudável discussão nos comentários, que enriquecia o texto.

3. Quais foram seus maiores hits? A que você os atribui?

Acho que foi um texto sobre a teoria do caos. Até hoje recebo comentários sobre ele. Acho que o que contou pontos foi a curiosidade sobre essa área nova da ciência. Outro hit foi uma resenha de uma coletânea de textos de José de Alencar. A maioria dos leitores desse texto, pelos comentários, parece ser de pessoas pesquisando sobre esse autor romântico. Pesquisas escolares, provavelmente. Alguns desses "pesquisadores" de vez em quando me escrevem pedindo para eu fazer o trabalho para eles. Não sei se foi no caso dessa resenha, mas sempre ocorre a situação do leitor confundir o autor com o resenhista e escrever um e-mail do tipo: "Não gostei do final do livro Senhora. Você poderia ter escrito um final diferente!". Eu sempre me divirto muito com isso.

4. Você mudou muito depois de entrar para o Digestivo? Como era escrever antes e como é escrever hoje?

Não mudou muito. Eu já era acostumado a escrever para jornal e para sites. Talvez a maior mudança tenha sido me acostumar a escrever rapidamente resenhas.

5. Cite alguma coisa significativa que o Digestivo te trouxe... Boa ou ruim? Por quê?

De bom, o Digestivo me trouxe visibilidade e a possibilidade de participar de um time de grandes autores. De ruim, a fase chata em que eu não conseguia acompanhar os prazos por causa das minhas atividades como professor universitário.

6. As pessoas do Digestivo... Alguém que você citaria? Por quê? Alguém com quem aprendeu alguma coisa? O quê?

Se eu citar um nome, corro sério risco de estar sendo injusto. A relação de bons autores, com os quais aprendi alguma coisa é enorme.

7. Acha que o Digestivo é um caminho para o jornalismo on-line? Sim, não, por quê? O que falta ao Digestivo Cultural? Como você imagina o Digestivo no futuro?

O Digestivo é um ótimo exemplo de jornalismo cultural, mas não sei se é o futuro do jornalismo on-line. O site tem características importantes, como o hipertexto, a possibilidade de lincar assuntos e isso é feito até nas resenhas, em que você pode, lincando para a Livraria Cultura, comprar o livro resenhado. Mas temo que o excesso de texto não seja chamativo para uma geração acostumada à fragmentação do videoclipe e do blog. A cara do Digestivo ainda é de jornal impresso. A criação do blog do site foi uma forma interessante de testar essa linguagem diferenciada.

8. Como você se imagina no futuro? Onde quer estar?

É engraçado isso de se imaginar. Não gosto de Paulo Coelho, mas aquela história do universo conspirar a nosso favor parece ser verdade, desde que você arregace as mangas. Lembro de que quando entrei na faculdade, disse à minha namorada à época que queria ser roteirista de quadrinhos e colunista de O Liberal, o maior jornal de Belém na época. Ela desdenhou. Um ano depois eu já estava escrevendo roteiros para as poucas editoras da época e tinha uma coluna quase fixa n'O Liberal. Algo que sempre quis é ser escritor. Não "escritor", aquela figura literata, arrogante, que acha que faz uma obra-prima a cada frase. Sempre admirei muito mais aqueles autores que se preocupavam apenas em contar uma boa história e davam uma banana para a dita "literatura". Stephen King, Monteiro Lobato, Conan Doyle e até aqueles autores de livros de bolso, como os da série Perry Rhodan. Há algum tempo um antigo editor de quadrinhos passou a me encomendar materiais. Inicialmente coisas pequenas, como textos de contra-capas de álbuns de quadrinhos. Depois algumas matérias maiores. Agora parece que a coisa engrenou e estou com encomenda de vários livros, a maioria adaptações infanto-juvenis, algo que remete à minha influência Lobatiana. Dia desses um amigo me escreveu dizendo que tinha apresentado um livro a uma editora, mas que eles iam mandar para que eu reescrevesse, pois eu era um "escritor profissional". Sei que esse seria um xingamento para a maioria dos autores, mas para mim foi um dos maiores elogios que já recebi.

9. Algum recado para os aspirantes?

Vai um recado para os aspirantes: não se levem muito a sério. Quem se acha genial não ouve críticas e não cresce. E não se intimidem. Muitos dos autores do Digestivo que você lê e acha os bambambãs começaram leitores, como você...

Gian Danton
Macapá, 28/12/2006

 

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