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Sexta-feira, 9/9/2011
Deseducação Sexual: Boneca vs. Sapo
Débora Carvalho


"Vamos tirar o sexo brejo e o casamento do pântano!"

No meu tempo de adolescente não se falava em sexo ― o que já é lamentável ―, salvo em algumas aulas de educação sexual, na escola. Nelas, era ensinado como não engravidar nem contrair DSTs. E só.

Hoje em dia, em vez de não ter educação sexual, a garotada recebe deseducação sexual nos lugares mais impróprios ― como nos vídeos pornográficos da internet, e nas novelas e em filmes que assistem com a família. Ainda hoje, com tanta informação circulando, ninguém fica sabendo que uma energia sexual saudável é importante para a saúde do corpo, para a autoestima, a beleza e a longevidade. Aliás, feliz do casal que realmente sabe o que é um sexo gostoso, e que tem energia para praticá-lo...

Em geral, as mulheres até querem, mas não sabem como curtir de verdade. Tudo bem que, às vezes, o problema está nelas mesmas, que simplesmente não aprenderam a se entregar ― de verdade ― ao marido. Aí caem no truque do prazer fingido, e isso é péssimo para ambos, pois a mulher pode começar a cobrar do marido de outras formas: por exemplo, se irritando com ele e criticando-o em situações que nada tem a ver com a cama.

Por outro lado, o marido ― que antes parecia ter uma dúzia de mãos cheias de desejo, passa a concentrar tudo na "etapa final", deixando a esposa meio frustrada. A pressa, a falta de cumplicidade, de companheirismo e de carinho transformam o que poderia ser puro amor em uma cena daquelas de filme erótico da pior qualidade... Com um agravante: mulher nenhuma sente o que as atrizes do gênero "interpretam" nesse tipo de filme. Sem conseguir dar prazer à esposa, o sujeito começa a achar que ela é "fria". Mas é ele quem traz o freezer para sua própria cama...

E qual é a mulher que tem coragem de dizer ao marido, com todas as letras, que ela não tem vocação para atriz de filme pornô? Isso significaria, para a grande maioria dos homens, um tiro no ego. Descobrir que o príncipe virou sapo não é pra qualquer um, não. Tem que ser muito macho para reverter a situação!

O que é preciso para se ter uma cama sempre quente?

Segundo a diretora da Escola do Feminino no Brasil, é muito importante a correta escolha do parceiro, pois a mulher precisa de segurança ― mesmo dentro do casamento. Para a diretora, a mulher precisa aprender a ser seletiva, reconhecer o bom parceiro e dele não ter medo, se entregar, e ter confiança. "Se a mulher não souber escolher o parceiro adequado sempre estará em estado de alerta, esperando alguma traição ou abandono, e neste estado não pode haver sexo bom", diz a especialista.

Alguns maridos não entendem essa necessidade feminina. Depois de alguns anos de casamento, não percebem que atitudes como indiferença, grosseria gratuita (que pode ser gerada por fatores externos ao ambiente familiar), falta de carinho e atenção, como nos tempos de namoro ou primeiros meses depois da lua-de-mel, afetam a capacidade de entrega das suas esposas. E só enxergam o que fica faltando: um jantar especial, mais visitas ao salão de beleza, renovação das roupas íntimas, casa arrumadinha... Voz doce e o mínimo possível de reclamação! (Tudo isso se reflete na, e é reflexo da, cama.)

Na cama do casal, os sentidos (audição, paladar, olfato, visão, tato) precisam estar aguçados. Marido e mulher devem estar presentes de corpo e alma, e não mergulhados nas suas preocupações ou em sonhos particulares. Só que, em situações de estresse e de insegurança, quando a mulher sente que passou a ser vista como uma "boneca inflável", é exatamente isso que o esposo vai encontrar na cama: o corpo dela estará sob os lençóis - mas seus pensamentos estarão muito, muito distantes...

Toda esta informação já é um grande diferencial, tanto para os homens como para as mulheres ― já que nos tempos da minha avó, como dizem, as mulheres aprendiam a ter medo do sexo oposto, o que tornava a cama um local de sacrifício para a mulher, e um prazer medíocre para o homem.

Hoje não precisa ser assim. Vivemos em tempos de comunicação aberta, informação gratuita e à disposição de todos. Resta decidir ter uma boa educação sexual, ou continuar aprendendo a fazer tudo errado ― o que pode colocar em cheque um casamento que poderia ser feliz...

Rituais de sedução

Segundo especialistas, o ato sexual, quando bem preparado, bem intencionado e com um parceiro compatível, acende a chama da energia vital, tornando a mulher mais radiante, mais bela, magnética e jovial.

A troca de energia sexual entre marido e mulher vai além do sexo em si. A sintonia pode ocorrer em uma simples conversa, compartilhando atividades, troca de olhares... Toques de carinho, massagens...

Não é porque se está casado há mais de cinco anos que os rituais de paquera, encanto e sedução estão dispensados. Muito pelo contrário. Sem aquela adrenalina da paixão ― que não dura a vida toda ― esses rituais tornam-se mais necessários do que nunca. Para o casal, é muito importante intimidade e confiança, mas ao mesmo tempo não deve haver uma rotina que acabe transformando o sexo em algo mecânico, e até entediante. (Também se recomenda um certo mistério e renovação contínua.)

A mulher necessita ter admiração pelo seu parceiro, pois sem essa não há desejo. E como admirar alguém que a trata com grosseria ou que não toca em seu corpo com carinho? (Ninguém gosta de se sentir uma boneca-inflável...)

Para o homem, é muito importante que a mulher saiba recebê-lo, com paixão e ternura, sem competição, nem exigências. Como ter ternura por uma mulher que só sabe reclamar e gritar? E ambos devem pensar no bem estar do outro, saindo do próprio egoísmo...

Segundo o terapeuta americano Wilhelm Reich, "energia sexual é a vida em sua melhor expressão, é fonte de beleza, juventude, vigor e longevidade". Quando essa energia está em baixa, a pessoa acaba se tornando apática, cansada, sem vigor, mal humorada, cheia de dores, desinteressada pela vida e desinteressante para o outro.

Ao contrário disso, sexo feito casualmente, sem intenção ou admiração pelo parceiro, pode se tornar mecânico e ser um desperdício de vitalidade, além de perder a graça rapidamente...

Sexo bom não tem necessariamente a ver com muitas experiências, nem com diferentes parceiros (e nem de reproduzir o que se vê em vídeos...). Trata-se de conhecer-se a si mesmo e ao outro, respeitar e superar as diferenças.

Casamento deveria ser sinônimo de sexo bom e seguro, e melhor a cada ano que passa ― e não o contrário. Tem até uma campanha no exterior que fala sobre isso. Lembre-se sempre: "Faça amor, e não faça pornô!".

Nota do Editor
Leia também "Vantagens da vida de solteiro" e "Liberdade é pouco".

Débora Carvalho
São Paulo, 9/9/2011

 

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