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Segunda-feira, 11/4/2016
E+ ou: O Estadão tentando ser jovem, mais uma vez
Julio Daio Borges

Você talvez se pergunte porque eu me importo tanto com o Estadão

Porque eu cresci lendo o Estadão. E porque, neste momento político, o jornal com o qual eu mais me alinho é o Estadão

Sim, é verdade, eu também fui muito crítico ao Estadão. Principalmente na época em que o Daniel Piza estava lá

Eu não entendia os posicionamentos do jornal em relação à internet e minhas críticas, igualmente, refletiam meus desentendimentos com o Daniel Piza a respeito

Não sei quantas pessoas vão ler este texto. Imagino que cada vez menos gente se importe com as investidas do Estadão no território da internet

Mas como acompanho a história há algum tempo, achei que poderia trazer alguma perspectiva. E até, quem sabe, ajudar o jornal...

Link

No início dos anos 2000, o Daniel Piza já me falava que o jornal queria ser “jovem” ou “mais jovem” (leia-se: atrair os “jovens” de alguma forma)

A primeira iniciativa de destaque, nesse sentido, foi o “Link”. Que, acreditem se quiserem, começou com uma rede social. Na época do Orkut (2004)

A rede foi criada apenas para o lançamento do Link, mas fez sucesso – porque era a primeira rede social brasileira

O Link era um bom caderno. E eu até cheguei a colaborar com ele. Fizeram bem em trazer o Marcelo Tas, que era sinônimo de internet na época (por causa do programa Vitrine)

Mas, ao mesmo tempo em que criou o Link, o Estadão foi questionando a existência do próprio Link – diminuindo seu tamanho e seu alcance, ao longo dos anos...

Primeiro saiu o Marcelo Tas, que era considerado “caro” para o jornal (era alguém que vinha da televisão)

Depois o caderno perdeu a edição do Anderáos – e acredito que só se firmou, novamente, quando editado pelo Alexandre Matias (ele estava lá em 2007, quando eu colaborei)

Numa das últimas reformas do jornal, aquela que diminuiu o número de cadernos (2013), eles acharam que o Link poderia se restringir a algumas “matérias” no primeiro caderno – e hoje, pouco mais de dez anos desde que começou, o Link se extinguiu completamente (me corrijam se eu estiver errado)

Limão e Território Eldorado

Aqui começa a esquizofrenia do Grupo Estado e das suas investidas na internet, tentando ser “jovem”

Em vez de pegar o Link e transformar num portal “jovem”, no final da década de 2000, resolveram criar o Limão, um novo portal

Eu e meus amigos empreendedores de internet ríamos do Limão, em 2008. Mas um deles acreditava que daria certo: porque o Estadão ainda tinha a Rádio Eldorado

Só que a Rádio Eldorado – que abrigava o podcast do Link, e teria alguns programas com o pessoal do caderno, como o Rádio Blog – já tinha o seu próprio portal, o Território Eldorado

Que o Estadão não fizesse do Link o seu portal jovem, eu até entendo: talvez não fosse uma marca tão forte. Mas que o publico “jovem” da Rádio Eldorado fosse “dispersado” em dois portais... me soa como um erro estratégico

O Limão não deu certo, obviamente. Foi na época em que o Facebook entrava no Brasil e ninguém queria saber de mais um portal “jovem”...

Já o Território Eldorado, que eu saiba, continuou. Sobrevivendo, inclusive, ao Link. Sobrevivendo à própria Eldorado, sobre a qual falo na sequência

Estadão/ESPN

Se a Eldorado era uma rádio respeitada, apesar de não ser tão “jovem”, ela jamais poderia ter sido sacrificada – como quando fizeram sua mudança de frequência em 2011

Olhando para a Copa de 2014, o Grupo Estado resolveu montar uma “joint venture” com o pessoal da ESPN Brasil – e lançaram uma rádio de notícias, bem na frequência da Eldorado (92.9 MHz)...

E a Rádio Eldorado? Foi jogada para o final do dial (107.3 MHz) – onde antes ficava a Brasil 2000 (que ninguém escutava)

Conforme previsto, a joint venture não prosperou. A ESPN pulou fora antes da Copa. A Rádio do Estadão nem sei se ainda existe... (Aquela frequência terminou, igualmente, abandonada)

Ainda assim, a Eldorado sobreviveu (na frequência da Brasil 2000). E eu ouvi falar do Território Eldorado outro dia...

Revisando o Portfólio

Por essas e por outras que eu não acredito em mais um portal “jovem” do Estadão

Se formos pensar bem, o Jornal da Tarde foi uma iniciativa “jovem” do Grupo, na década de 70...

E deu certo

Só que, mesmo um ativo desse porte, em 2012, “deixou de circular” – no que, eufemisticamente, chamaram de “revisão de portfólio”...

Ou seja: a história recente do Grupo Estado tem sido a de por a perder ativos importantes como a Rádio Eldorado e o Jornal da Tarde

Enquanto não consolida ativos novos, como o Link. Ou tem uma estratégia confusa – onde ativos competem entre si, como no caso do Território Eldorado e do Limão

“E o Zap?”, podem me perguntar. Não sou da área, mas parece que o Zap deu certo

Mesmo assim, estou falando da estratégia do Grupo para a área de conteúdo – e acho que eles deveriam entender do que estão fazendo, afinal são um jornal...

Para ir além
E+

Julio Daio Borges
São Paulo, 11/4/2016

 

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