Sexta-feira,
21/10/2005
Digestivo nº 249
Julio
Daio Borges
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DEUS FALA EM CAPS LOCK
Um dia alguém ainda vai pesquisar sobre os primeiros anos da internet brasileira, em termos de conteúdo. Por enquanto, ficamos com a visão preconceituosa da imprensa-impressa e com as paixões dos que participaram da história. E por falar em história, quem quer, de alguma maneira, conhecê-la, deveria ler Cavernas & Concubinas (editora DBA), de André Czarnobai, mais popularmente conhecido como “Cardoso” (antes de “Fernando Henrique Cardoso” no Google). Voltando à pesquisa, falta contextualizar os escritos de Cavernas & Concubinas, mas eles compreendem basicamente os textos de Cardoso no finado CardosOnline (1997-2001), o mais influente “e-zine” da internet brasileira nas suas origens, passando pelos blogs Tripa nelas tudo e One hundred percent chongas, e praticamente terminando no recém-inaugurado podcast Deusulivre. A importância de Cardoso, além do escritor, reside no fato de haver lançado, via Cardoso Online – como editor –, virtualmente uma geração de autores do Sul (ou que residiam, à época, no Sul): Daniel Pellizzari, Daniel Galera e Clarah Averbuch, para ficar nos mais notórios. Os dois Daniéis fundaram posteriormente a editora Livros do Mal (também referência). Hoje Pellizzari publica pela DBA e Galera tem um lançamento previsto pela Companhia das Letras. Já Averbuch teve, igualmente, um blog e hoje é escritora da Planeta. Fora colaborações em revistas como a Trip. As portas do mundo se abriram pra eles, enfim, mas o Cardoso, por exemplo, nunca havia publicado em livro. Cavernas & Concubinas vale, então, como registro. Não tem propriamente uma unidade, nem qualidade estritamente literária. Alguns “contos” são, na verdade, excelentes crônicas do momento em que a internet e a literatura brasileira (do futuro?) se trombaram. Exemplo disso é o relato “Experiência”, incluído no volume, sobre a Flip. No mais: boas anedotas, aventuras sexuais esparsas, relação com drogas... As esquinas de alguém amadurecendo ou que já amadureceu. Em público. Cavernas & Concubinas tem, portanto, importância histórica – uma vez que o próprio Cardoso já a tem –, mas não nos permite saber o que será dele, do seu texto e daqueles por ele lançados.
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Cavernas & Concubinas - Cardoso - 182 págs. - DBA |
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O CONSELHEIRO TAMBÉM COME (E BEBE)
Ainda que muitos donos de restaurante se escondam da imprensa e do público, os Plaza se orgulham de apresentar o Emporium Plaza, localizado na badalada rua Oscar Freire, como uma continuação de seu amor pela gastronomia em família e em casa. Com um conceito sofisticado, e até ousado para o Brasil, o Emporium veio promover, primordialmente, a combinação entre carnes e vinhos, sendo o churrasco praticamente uma tradição do brasileiro e a enologia, uma promessa ou, ainda, nem tanto. O Emporium Plaza quer servir, portanto, as melhores carnes e os melhores vinhos, e as suas combinações, enquanto que quer comercializar as primeiras na sua loja e promover os segundos na sua adega, onde funciona hoje a charmosa Wineland (Terra do Vinho). Embora o culto à carne esteja arraigado na nossa tradição à mesa, mesmo considerando que os cortes do Emporium Plaza são pouco óbvios e preparados com um esmero talvez sem par em São Paulo, é um belo desafio, para os Plaza, disseminar a combinação, carnes&vinhos, e principalmente fazer do vinho um componente permanente na mesa do brasileiro. Assim, enquanto o restaurante oferece especialidades impecáveis, como o Cotê de Boeuf e o New York Steak, fora as exóticas carnes de javali, de marreco e de galinha-d’angola, a Wineland comercializa garrafas de vinho a preço de custo, direto das importadoras, ao mesmo tempo em que implementa cursos e degustações, fomentando a demanda. O Emporium Plaza ainda vende uma lista de assessórios para churrasco (além de, obviamente, carnes), da churrasqueira à faca mais apropriada, chegando à comodidade de realizar o churrasco na casa do cliente (se ele assim o desejar). Eis porque o Emporium Plaza é uma iniciativa ambiciosa, num nível de sofisticação, em matéria de carnes&vinhos, que o brasileiro, mormente o paulistano, ainda está aprendendo a apreciar. Tudo isso na Oscar Freire, um dos metros quadrados mais comercialmente disputados do mundo. Em alguns meses são dois anos de iniciativas e de ajustes, à realidade da nossa cidade, mas o futuro talvez comprove que a vanguarda inaugurada pelo Emporium Plaza – em matéria, mais uma vez, de vinhos e carnes – tenha tudo para se firmar como mais uma marca registrada da gastronomia de São Paulo.
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Emporium Plaza - Rua Oscar Freire, nº 574 - Jardins - Tel.: (11) 3065-3355 |
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O TERRORISTA, ELE OBSERVA
Criar tipos para criticar costumes, na nossa sociedade, foi uma prática que se disseminou dos anos 90 pra cá, no nosso teatro, desde que Pedro Cardoso estreou seu espetáculo Os Ignorantes (1999) — outro dia lembrado por Matheus Natchergaele, numa eleição particular dos "mais mais" — ou desde antes (não se sabe...). O fato é que tivemos, entre altos e baixos, ainda o furor da Terça Insana, de Grace Gianoukas, e o desbunde de Cócegas (daquelas duas que diziam "não conseguir trabalho"...). E o fato é que agora temos Prego na Testa (Sesc Belenzinho), com Hugo Possolo, dos Parlapatões, um grupo acima de qualquer suspeita, segundo os insiders... Parece que até podemos adivinhar a lógica: um determinado grupo, cansado de peças sérias, ou de comédias sérias — vá lá —, decide cair no gosto do público e apela para o expediente das imitações, focando, justa e ironicamente, a própria platéia, a sempre emparedada classe média (já que a "classe alta" há muito não se interessa por teatro, se é que um dia se interessou, e já que a "classe baixa" não tem dinheiro para comprar entradas). Possolo, como ator, é um virtuose do palco e deve perder tantas calorias quanto um corredor de maratonas ou quanto um rapazola (ou uma moça) saltitando numa rave por dias e noites. Alguns tipos são impagáveis, como o burguês emergente, descendente de italianos, que oferece aos filhos a picanha "sangrentinha", realizando-se na grelha, enquanto a família está lá na piscina, e protegendo a casa de campo com modestas cercas eletrificadas; ou o aspirante a ator, que deve efetivamente assediar Possolo após cada apresentação, rogando por sua presença no Next, quarta-feira, uma e meia da manhã, a fim de introduzir-lhe à nova vanguarda do teatro nacional, numa peça com sangue e carnes de açougue... Outras, porém, caem na "voz corrente", de quem mira na classe média (supostamente) acomodada nos seus hábitos. E Possolo merece todo o sucesso que conseguir conquistar (se é que o objetivo é mesmo esse), mas talvez devesse agredir um pouco menos seu espectador. O humor, em si, já é demolidor, por natureza, e uma dose maior de sutileza nunca faz mal — mesmo para uma classe média obsedada pela televisão. No mais, vida longa aos Parlapatões!
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Prego na Testa - Parlapatões - Sesc |
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Palestras
* Educação em debate - A Biotecnologia e o Ensino das Ciências Biológicas - Cesar da Silva, Eduardo Martins, Francisco Arruda Sampaio e Maria Cecília Condeixa
(Ter., 25/10, 19hs., VL)
>>> Noites de Autógrafos
* Intervenções em Centros Urbanos - Heliana Comin Vargas e Ana Luisa Howard de Castilho (Orgs.)
(Ter., 25/10, 18h30, CN)
* Semiótica do Direito - Clarice Von Oertzen Araújo
(Qua., 26/10, 18h30, CN)
* Anotações com arte – 2006 – Chico Buarque - Fred Rossi
(Qua., 26/10, 19h30., VL)
* Fazer silêncio - Mariana Ianelli
(Qui., 27/10, 18h30, CN)
* Aplicação prática de Gestão de Pessoas por Competências - Rogério Leme
(Qui., 27/10, 19h30, VL)
>>> Shows
* Tangos - Trio Images
(Seg., 24/10, 20hs., VL)
* King Oliver em Chicago - Traditional Jazz Band
(Sex., 28/10, 20hs., VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
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Julio Daio Borges
Editor |
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