busca | avançada
101 mil/dia
2,0 milhões/mês
Sexta-feira, 3/11/2006
Digestivo nº 302

Julio Daio Borges

>>> HEI DE LEMBRAR-TE SEMPRE COM TERNURA Do mesmo jeito que tem gente que acusa Antonio Carlos Jobim de não ser maestro coisa nenhuma, tem gente que acusa Vinicius de Moraes de não ser poeta. É uma controvérsia que se propaga pelas gerações afora de letristas de MPB. Carlos Heitor Cony, por exemplo, acha que Noel Rosa escreveu versos comparáveis aos de Camões. Já os Irmãos Campos se apoiaram na teoria de Ezra Pound, presente no seu ABC da Literatura, para definir Chico Buarque como “mestre” e Caetano Veloso como “inventor”. O fato é que a poesia – e não as letras de música –, de Vinicius de Moraes, vêm novamente à baila com o lançamento do seu Livro de sonetos em formato de bolso. Tem, lógico, o “Soneto de separação” (“De repente do riso fez-se o pranto...”), tem o “Soneto de fidelidade” (“(...) que seja infinito enquanto dure”) e tem a “Poética” (“Meu tempo é quando”), que Tom Jobim adorava citar de memória. Mas, embora João Antônio afirme ser Vinicius “um dos altos sonetistas que o idioma teve”, vida e obra se misturam sempre no caso do Poetinha, provocando confusão. Manuel Bandeira exagera ao compará-lo aos “parnasianos”, aos “simbolistas”, aos “românticos” (!), mas acerta ao classificá-lo como “homem bem do seu tempo”. Antonio Candido, idem, quando – mais carinhoso do que rigoroso – conclui: “A espontaneidade foi a sua mais bela construção”. Como conseqüência, apesar de ser magro o volume, em alguns momentos se arrasta a leitura, provocando, em nós, mais o prazer do reconhecimento, em algumas passagens (musicadas?), do que propriamente o prazer da surpresa e da novidade. É; tinha amigos influentes, o Vinicius... Até que ponto João Cabral de Melo Neto estava sendo sincero quando afirmou que Vinicius de Moraes poderia ter sido “o nosso grande poeta”? Não poderia ter sido; tanto que não foi. Acontece que a personalidade do Poetinha continua inebriante, para nós, contemporâneos seus – então vamos continuar perdidos em seu labirinto, sem coragem de fazer uma avaliação justa do que ele deixou.
>>> Livro de sonetos - Vinicius de Moraes - Companhia das Letras - 96 págs.
 
>>> SI ME VERS AVAIENT DES AILLES Fechou com chave de ouro a Temporada 2006 do Mozarteum Brasileiro, com dame Felicity Lott (soprano), acompanhada de Maciej Pikulski (ao piano), na Sala São Paulo. Foi felicíssimo o programa, que começou com Robert Schumann e que encerrou a noite com sir Nöel Coward. Como os músicos brasileiros costumam dizer, Felicity e Maciej foram “do erudito ao popular” com muita sabedoria, com muito humor, sem que o público pudesse sequer sentir a transição. Antes do intervalo, a platéia se deliciou com a pronúncia e com a expressividade do alemão de dame Felicity, também, em Richard Strauss, que musicou desde Goethe (e Michelangelo) até Herman Hesse. Fora a teatralidade da intérprete que, de vestido longo, fez um belo uso do gestual, sem cair na afetação, encarnando poesias e canções como se fossem o melhor da ópera. Depois do intervalo, com a troca de roupa, Felicity encontrou uma audiência mais solta, mais habilitada a entender e a reagir a Reynaldo Hahn, com sua francofilia venezuelana, e sobretudo a Maurice Yvain, que arrancou risadas graças a “Yes! ” (da opereta homônima). Esta última peça contou, ainda, com a participação especial do mesmo Maciej Pikulski, que, na hora exata, soltava seu “yes” simpático. “J’ai deux amants”, de André Messager, manteve o tom descontraído e, mesmo para quem não manejava bem o idioma de Voltaire, ficou claro o tema e seus desdobramentos. Sir Nöel Coward, além de encerrar, coroou a apresentação com “Mad about the boy”, “Alice is at it again”, “If love were all” e “A bar on the Piccola Marina”. Coward era homem dos sete instrumentos (catorze, segundo Lord Mountbatten, citado no programa), mas parece que, de tudo o que andou aprontando, seu cancioneiro é o que mais conserva seu valor intacto (fica a provocação aqui aos cinéfilos fãs do autor...). Foi uma noite civilizadíssima, para poucos e bons ouvintes. O Mozarteum, para completar, fechou sua 25ª temporada com números impressionantes. Que 2007 não demore demais a chegar.
>>> Mozarteum Brasileiro
 
>>> O CONSELHEIRO TAMBÉM COZINHA (E COME) Como afirmou Ricardo Maranhão no Viandier Casa de Gatronomia, o pão sempre teve algo de fascinante para todas as civilizações. Os egípcios, que o descobriram, através de seu forno, comparavam sua feitura a um parto e consideravam que, tão milagroso quanto o dom da vida, era o ato da panificação. Já os romanos se consideravam civilizados, justamente, por não consumirem apenas o que a natureza lhes fornecia diretamente, mas por dominar a síntese de produtos como o vinho, o azeite... e o pão. Logo, por que não realizar uma homenagem a tão nobre alimento? Pois foi o que ocorreu, no mesmo Viandier Casa de Gastronomia, durante seu Workshop de Panificação e Confeitaria, em uma das últimas semanas de outubro. O Viandier trouxe, direto do Rio de Janeiro, o chef Juan Bertoni, ex-Copacabana Palace, para revelar seus segredos em matéria de panificação e em sua atuação como confeiteiro. Habilíssimo, e sempre muito descontraído, Bertoni preparou desde, obviamente, pães clássicos, como a baguete vienense, até empanadas, fogaças, pizzas e uma sofisticada minitorta de brie com geléia de damasco. Repetiu-se, no Viandier, o milagre da criação, e os participantes, depois de literalmente colocar a mão na massa, assistiram espantados ao resultado de seu esforço, e degustaram, claro, maravilhados. O complemento aos salgados foi um banquete de doces, que teve desde creme de doce de leite até ovos nevados, desde caramelo para decoração até trufas de chocolate, tuilles, culminando com sabayone e tarte tatin. Juan Bertoni propagou a magia que o consagrou: executava cada etapa dos múltiplos processos com extrema simplicidade, comandando várias bancadas ao mesmo tempo, para, no encerramento, entregar uma obra de arte gastronômica que, incrivelmente, não parecia ter sido concebida ali... debaixo dos olhos dos alunos. De receitas em punho, todos seguem agora para o teste nas cozinhas de suas casas... O Viandier tem sabido perpetuar essa mágica.
>>> Viandier Casa de Gatronomia
 
>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA



>>> Palestras
* III Semana de Moda e Cultura - "A construção da roupa"
Érika Ikezilli
(Seg., 06/11, 19h00, CN)
* Lançamento do DVD "Superman - O retorno"
Paulo Chede e Paulo Gustavo Pereira
(Qua., 08/11, 19h30, MP)

>>> Autógrafos
* O Sol e a Sombra - Laura de Melo e Souza
(Seg., 06/11, 19h00, CN)
* Faz que Não Vê - Altamir Tojal
(Qua., 08/11, 18h30, CN)
* Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável
Ana Carla Fonseca
(Qui., 09/11, 18h30, CN)
* Obesidade - uma abordagem multidisciplinar
Antonio Herbert Lancha Jr.
(Sex., 10/11, 19h00, VL)

>>> Exposições
* Colheitas do Brasil
(de 06 a 25 de novembro de 2006, das 9h00 às 22h00, CN)

>>> Shows
* Recantando o Carnaval - Bia Goes
(Sáb., 11/10, 17h00, MP)
* Belo Caminhar - Casa III
(Dom., 12/10, 18h00, VL)

* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** Livraria Cultura Market Place Shopping Center (MP): Av. Chucri Zaidan, nº 902
**** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

busca | avançada
101 mil/dia
2,0 milhões/mês