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Sexta-feira, 16/3/2007
Digestivo nº 320

Julio Daio Borges

>>> THE ROCK’N’ROLL OF OUR TIME Os brasileiros, em geral, têm preguiça de processar a novidade – ainda mais se essa novidade ameaça o status quo. A internet é esse tipo de novidade: os blogs, por exemplo, a imprensa postergou por cinco anos ou mais, até processar. Agora, além dos podcasts – os videocasts (como o YouTube) foram processados rapidinho –, a mídia brasileira, morrendo de preguiça, tem de processar, não dá pra escapar, conceitos como os de “web 2.0”, “efeito cauda longa” e até o novíssimo “crowdsourcing”. Mesmo porque não é mais uma questão de pirraça, de bater o pezinho e de fingir que a internet é uma bobagem: é uma questão de vida ou morte. Numa tentativa de mostrar que a internet é um fato consumado e que a mídia brasileira, fugindo da realidade, está na corda bamba, foi realizado o evento “Proxxima: Encontro Internacional de Comunicação Digital 2007”, no WTC paulistano, em dois dias no início de março. Os destaques foram, conforme esperado, as palestras de Drew Schutte, VP da revista Wired, e Nigel Morris, CEO da Isobar (que, no Brasil, acaba de adquirir a AgênciaClick – porque... alguém aí falou em novo boom?). Drew mostrou como transformar uma publicação voltada para tecnologia num conglomerado que, além da revista em papel, envolve sites, lojas (físicas), estúdio de criação, eventos externos (para dezenas de milhares de pessoas), programas de televisão e até casas (de morar) com o “conceito Wired”. Já Nigel, entre piadinhas e ares oraculares, atualizou os brasileiros em assuntos velhos como: “todo mundo vai ser famoso não mais por quinze minutos mas para quinze pessoas” (David Weinberger); “os consumidores têm de passar a sua história adiante” (Seth Godin); e “o poço dos desejos está virtualmente globalizado” (John Battelle). A esperança, para os homens de mídia brasileiros, é de que a ficha finalmente caia – já que eles descobriram os blogs só no ano passado. Será que só descobriram ou processaram?
>>> Proxxima 2007
 
>>> PORTEÑARÍA É; cada vez mais, os argentinófilos estão podendo sair de seus esconderijos, no Brasil, e celebrar seu gosto pelo país vizinho. Afinal de contas, em São Paulo, às vezes é mais vergonhoso, e perigoso, torcer pela Argentina do que falar bem do Rio. Uma torcida organizada – e ferozmente “do contra” – se levanta quase sempre para sufocar qualquer demonstração de apreço, simpatia ou mesmo boa vontade. Recentemente, a Orquestra Típica Fernández Fierro (OTFF) esteve se apresentando no Auditório Ibirapuera abarrotado e, agora, é a vez do De Puro Guapos. Com liderança do bandoneonista argentino Martín Mirol, a “Orquestra Típica de Tango”, com todos os demais músicos do Brasil, completou sete anos de atividades desde 1999, com shows aqui e ali e, mais importante, com um CD gravado ao vivo em 2005 (lançado no ano passado), no Espaço Chachuera. Mauricio Berú, argentino, presidente da Academia Brasileira do Tango, reclamou um pouco, no encarte, do repertório “guardaviejero” (tradução: de velha guarda), apoiado em peças dos anos 40, mas, para argentinófilos brasileiros, não poderia cair melhor. O disco é quase clássico com gente como Cárdenas (“9 de Julio”) e Piazzolla, muito Piazzolla (quase metade dos registros: “Milonga Del Ángel”, “Tango Del Ángel”, “Libertango”, “Adiós Nonino” e “Zum”). E é clássico, também, na execução e na interpretação, fidelíssima e sem muita firula. Para quem acabou de ver os “roqueiros” da OTFF, De Puro Guapos funciona como um contraponto interessante. Tudo bem que continuamos não podendo sair na rua e declarar nosso amor à Argentina, em alto e bom som, mas, nos limites do toca-CDs e dessas apresentações “en vivo”, podemos escancarar nossas preferências sem sermos perseguidos depois.
>>> De Puro Guapos Ao Vivo
 
>>> O SENHOR É ESCRITOR? Para quem achava que a Flip era um ovo de Colombo – porque nunca se tinha conseguido levar tantas pessoas “normais” a um evento de literatura –, Afonso Borges chega a São Paulo com o Sempre um Papo. Há mais de vinte anos (a Flip vai fazer cinco), Afonso começou em Belo Horizonte e foi expandindo seu circuito para mais de dez cidades brasileiras até chegar, em 2006, a São Paulo. A fórmula, a princípio, não é nada mirabolante: usando como gancho um lançamento recente, Afonso Borges convida um escritor para falar de seu livro, com ampla participação da platéia. No último dia 7 de março, por exemplo, Bernardo Carvalho esteve no Sesc Paulista (o Sesc, aqui, é um dos apoiadores do projeto – a patrocinadora é a Cosipa) discorrendo sobre o recentíssimo O sol se põe em São Paulo (Companhia das Letras, 2007), seu trabalho em geral e suas outras obras. Afonso, pelo que se pôde depreender, não é muito técnico nas perguntas, não fica especificamente na literatura e deixa o público se soltar. Ou seja: o Sempre um Papo contempla piadas, até confissões do autor (Bernardo Carvalho mostrou seu desespero com os índices descrescentes de leitura no Brasil) e nunca censura as perguntas, mesmo as mais estapafúrdias, do público. Ao mesmo tempo em que é um alento para a literatura, e sobretudo para os solitários escritores, o Sempre um Papo traz, embutido, o questionamento sobre a eficiência de tantas outras iniciativas que: ou não duraram tanto ou, transformadas em mera ação promocional, terminaram espantando os leitores. Apesar de suas claras ambições de mainstream, Borges chega à capital paulistana para abalar as estruturas dos eventos de literatura. As tradicionais sessões de autógrafo com palestra (e vinho ruim) têm de ser urgentemente repensadas.
>>> Sempre um Papo
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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