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Sexta-feira, 12/6/2009
Digestivo nº 419

Julio Daio Borges

>>> O TWITTER NA TIME Enquanto os jornalistas brasileiros classificam o Twitter como "uma besteira", os da Time afirmam, na capa da revista, que o mesmo Twitter "vai mudar nosso jeito de viver". Um exagero de ambos os lados. No caso do Brasil, um exagero em matéria de desinformação. E, no caso dos EUA, um exagero calculado, para vender mais exemplares na banca. Afinal, conforme a própria Time estima, são 32 milhões de usuários no Twitter neste momento. E o serviço vem crescendo de 50 a 100% mensalmente. A expectativa é de que alcance 50 milhões no final deste ano (vale lembrar que o Facebook tem 200 milhões). Abocanhar uma parcela disso — quando as maiores revistas têm tiragem de um milhão — é um grande feito, não é? A Time começa fazendo uma piada, pelo fato do Twitter causar uma "má primeira impressão". Valoriza o que o microblog proporciona em termos de "ambient awareness" (algo como "consciência do ambiente" ou, numa tradução livre, "percepção do zeitgeist"), expressão de Clive Thompson. Sugere que o interesse reside não "no Twitter em si", mas "no que estamos fazendo hoje com ele". Na interpretação de Ashton Kutchermais de 2 milhões de "seguidores" —, seria o fato do Twitter não ser, exatamente, a "soma" de instant messaging (nosso MSN) com rede social (nosso Orkut). A Time se rende, finalmente, classificando muitos dos tweets (ou microposts) como "tocantes", "engraçados", "argutos" e "irreverentes". Sua ameaça ao Google, segundo John Battelle, estaria na possibilidade do Twitter revelar a "super fresh" Web ou a "internet em tempo real" (que a poderosa ferramenta de busca, atualmente, não revela). O mesmo Facebook já ofereceu 500 milhões pela startup de Evan Williams, Jack Dorsey e Biz Stone. Não é, decididamente, "uma besteira". Mas será que vai nos mudar mais do que já mudamos nestes últimos anos (© @dudafleury)?
>>> How Twitter Will Change the Way We Live
 
>>> O LIVRO DOS INSULTOS, DE H.L. MENCKEN "Pode-se dizer com bastante segurança que qualquer artista de alguma dignidade é contra seu país". "Todo homem decente se envergonha do governo sob o qual vive". "O principal conhecimento que se adquire lendo livros é que poucos livros merecem ser lidos". Essas e outras frases estão impregnadas no inconsciente de quem passou os últimas décadas lendo atentamente os melhores jornalistas culturais brasileiros do século XX. Porque todos eles, direta ou indiretamente, foram influenciados por H.L. Mencken. A começar por Paulo Francis, que o tinha como um de seus heróis, junto a Bernard Shaw e Edmund Wilson. Emendando com Ruy Castro que, além de compilar essas frases em suas coletâneas de Mau Humor, organizou a mais célebre edição de Mencken em português - justamente, O Livro dos Insultos, que teve sua primeira tiragem em 1988, com tradução e posfácio de Ruy, mais orelha de... Paulo Francis. O livro sai, agora, com novo projeto gráfico, dentro da coleção Jornalismo Literário da Companhia das Letras. Mencken não é bom filósofo, mas estão lá, igualmente, suas opiniões filosóficas. Não gostava de música popular, mas coincidiu com o nosso Vinicius de Moraes quando afirmou que "a paixão é o mais perigoso de todos os inimigos da suposta civilização" (ambos, na verdade, devem ter bebido em Freud). Admirava, imensamente, Beethoven e imaginava que ele devia ter realizado seu ideal de "artista livre": "o homem que ganha a vida, sem nenhum patrão, fazendo coisas que lhe agradam, e que continuaria fazendo mesmo sem pressões econômicas". Mencken soa hoje mais inteligente e engraçado do que literário e profundo. Mas suas observações, de tão verdadeiras, ficam impregnadas em nós. Quando, por exemplo, diz que o camponês que vem para a cidade precisa se alienar, para não se sentir constantemente esmagado e explorado; ou quando conclui que ninguém está imune às opiniões e aos preconceitos de sua própria mulher; ou, ainda, quando prova que toda autobiografia sincera é uma contradição em termos. Mencken escreveu mais do que deveria, mas merece ser decorado, em muitos de seus trechos, como sugeria seu ídolo Nietzsche.
>>> O Livro dos Insultos
 
>>> FESTIVAL DA MANTIQUEIRA — DIÁLOGOS COM A LITERATURA 2009 Digam o que disserem, a FLIP fez escola. E era impossível não se lembrar de suas primeiras edições durante o Festival da Mantiqueira — Diálogos com a Literatura, no final de maio, em São Francisco Xavier. A associação com a Paraty lotada — das últimas FLIPs —, parece descabida, mas faz todo o sentido quando se pensa nas primeiras edições, como a de 2004 (com uma Paraty quase vazia). O Festival da Mantiqueira — Diálogos com a Literatura, coincidentemente, realizou sua segunda edição, e São Francisco Xavier recebeu os nossos autores, e seus entusiastas, num clima de festividade, despretensão e civilidade como não acontece mais em São Paulo (nem em Paraty, lamentavelmente). Entre os destaques, esteve a homenagem a Edgar Allan Poe, em mesa com Luis Fernando Verissimo e Luiz Alfredo Garcia-Roza (com mediação de Luis Augusto Fischer). Também uma palestra sobre Brasil: a História contada por quem viu, com Jorge Caldeira. Ainda os shows de Marina de La Riva e do Jazz 6, no Photozofia (com o mesmo Verissimo ao saxofone). Era possível topar, igualmente, com o lado fotógrafo de Cristovão Tezza, com a curiosidade de Wilson Bueno, em relação à biblioteca solidária de Sidnei Pereira Rosa, fora autoridades como o governador José Serra e seus secretários, misturados a jornalistas e populares. Tatiana Salem Levy, para completar, deu o ar da graça numa mesa de estreantes e Xico Sá fez rir, comme d'habitude, ao lado de Sergio Paulo Rouanet. Faltaram os convidados internacionais da FLIP, mas a atitude low-profile talvez confira ao Festival da Mantiqueira — Diálogos com a Literatura maior fôlego, antes da chegada das hordas de culturettes e fãs de Chico Buarque...
>>> Festival da Mantiqueira — Diálogos com a Literatura 2009 | Festival da Mantiqueira — Diálogos com a Literatura 2008
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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