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Terça-feira, 5/9/2006
O Poeta do Som

Julio Daio Borges




Digestivo nº 295 >>> Sivuca é, para muita gente, aquele albino sanfoneiro que se confunde com Hermeto Pascoal. Mas é, além disso, um virtuose paraibano que resolveu, neste ano, prestar uma grande homenagem a seu estado: Terra Esperança. O CD, lançado agora pela Kuarup, é o resultado de um trabalho de pesquisa, de Sivuca e de Glória Gadelha (a produtora), que reúne um repertório 100% ligado à Paraíba. Tem, logo na abertura, “Amoroso Coração”, com o Quinteto da Paraíba – um canto lírico de sanfona, quase “a capella”, anunciando a densidade e a vitalidade do álbum todo. Em seguida, na segunda faixa, “Um sol em mim”, alterna um quase-tango, um quase-jazz. “Barra vai quebrando”, com o Brazilian Trombone Ensemble, é a alegria do frevo, do xote, do baião – mas sem deixar de ser sério(!). “De bom grado” – se é possível aqui toda essa mistura – insinua um forró, marca uma valsa e tem bateria de bossa nova. “A doce canção de Nélida” é o momento melódico mais inspirado da dupla, Sivuca e Gadelha (que também compõe) – e nisso não chegamos nem na metade do CD... O encarte – ou melhor, Mario de Aratanha – nos conta que o virtuosismo, sabido e notório, quase atrapalhou Sivuca, que foi escrever partitura, arranjar e ser executado pela Orquestra de Rádio da Dinamarca, por exemplo, só de 20 anos pra cá. É certo que alguns instrumentistas, no Brasil, fariam melhor negócio não compondo (sem falar em alguns intérpretes...), mas está longe de ser o caso de Sivuca. A alternância de ritmos – quase uma obrigação em outros CDs – não incomoda. Já o flerte com o erudito não soa falso nem artificial: promove respiros e infunde, no ouvinte, um estado de meditação. “Sempre uma presença”, outro exemplo assim, quase no meio do disco (“a primeira do lado B”, se fosse um LP) lembra muito o Quinteto Villa-Lobos: é suave, saltitante e não agride (graças, também, ao Quinteto Latinoamericano de Sopros...). O disco segue nesse passo e outro grande momento, “Comigo Só”, um blues da mesma afinada dupla, é a antepenúltima faixa. Já quiseram, e tentaram, matar, na filosofia, a metafísica; felizmente, na música, ela persiste.
>>> Terra Esperança
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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