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Sexta-feira, 1/12/2006
O destino dos homens

Julio Daio Borges




Digestivo nº 305 >>> Depois de uma diluição dos temas amorosos, e dos seus próprios romances, em Diário de um fescenino (2003), e depois de uma diluição dos policiais, e do seu próprio detetive, em Mandrake: a Bíblia e a bengala (2005), Rubem Fonseca retorna com um belo livro de contos, como não acontecia desde, pelo menos, Pequenas Criaturas (2002). A revista Piauí já havia antecipado uma peça de Ela e outras mulheres em setembro último. “Miriam” já era Rubem Fonseca puro, mas a novidade no volume como um todo está no apuro da ironia e numa boa dose de humor negro. Como se Rubem acrescentasse, além dos ingredientes de grande violência que o consagraram, um novo sentido tragicômico que, no desfecho de cada conto, encerraria uma possibilidade menos dramática. E se o conto é o gênero por excelência da reviravolta, as reviravoltas em Ela e outras mulheres estão magistrais. Ao contrário de Diário..., e até de Mandrake..., Rubem Fonseca, em 2006, praticamente não sucumbe ao clichê na conclusão – e consegue produzir, inclusive, peças que prescindem basicamente de seus dois maiores temas, o sexo e a violência. É interessante que seu lançamento tenha coincidido com o de Dalton Trevisan, porque, em matéria de diálogos – compondo a partir da fala coloquial e, ao mesmo tempo, da tradição da literatura –, os dois, aos 80 anos, permanecem insuperáveis no gênero. Rubem Fonseca elimina definitivamente as aspas – coisa que vinha ensaiando há anos (depois de eliminar o travessão) – e encerra, na linguagem, uma evolução que parece não ter limites, apesar da idade. Por último, desde o título, declara seu amor eterno pelas mulheres, pelas ligações com elas e pela sua essência tão ligada à natureza. Não se sabe se Ela e outras mulheres é um livro para sempre, mas "para agora" o é inescapavelmente.
>>> Ela e outras mulheres
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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