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Quarta-feira, 3/4/2013
Gonzaga - De Pai pra Filho, de Breno Silveira

Julio Daio Borges




Digestivo nº 490 >>> Nem todos os grandes artistas são grandes pais. Luiz Gonzaga foi um grande artista. Um revolucionário da música do Brasil. Colocou os ritmos do Nordeste na Rádio Nacional, durante a Era Vargas. Se formos considerar que, entre idas e vindas, Getúlio Vargas liderou o Brasil da Época de Ouro do samba (anos 30) até a ascensão de Carmen Miranda em Hollywood (anos 40), Luiz Gonzaga quebrou um paradigma. Chegou no Rio de Janeiro pré-bossa nova e ― antes que João Gilberto cantasse "Chega de Saudade" e Bôscoli & Menescal compusessem versos como "Dia de luz, festa de sol" ― atacou de xotes, baiões e xaxados. Dominguinhos conta que o Rei do Baião não tinha medo de voar, assim justificando: "O avião não vai cair, estamos levando alegria pro povo". Mas Luiz Gonzaga não foi um pai exemplar. Perdeu a mãe de Gonzaguinha para a tuberculose e deixou o menino oscilando entre a madrastra, com quem não se dava bem, e a madrinha, a quem recorria quando, justamente, rompia com o pai. Luiz Gonzaga desbravou o Brasil em turnês antes do advento do rock'n'roll. Mas ― como artista que ascendeu sob o guarda-chuva da Rádio Nacional (e, portanto, sob os auspícios do governo) ― quando em dificuldade nos anos 60, não se recusou a tocar para os militares. Gonzaguinha, um rebelde por formação, criticaria e romperia com o pai radicalmente. Por ironia do destino, enquanto o pai decaía, Gonzaguinha alcançava o sucesso, pelo seu próprio mérito. Uma noite, num longíquo camarim, receberia a vista da velha madrasta, que fazia as vezes de secretária e empresária de Gonzagão. Num rasgo de humildade, ela vinha pedir a Gonzaguinha que salvasse o pai. Relutante, o filho se dirigiria para o Exu, reduto de Gonzagão. Nesse reencontro ― do filho bem sucedido com o pai à beira da falência ―, os dois Gonzagas, finalmente, viriam a se conhecer e, quem diria, se reconciliar. Dessa união, inclusive, nasceria a turnê de pai e filho, ao mesmo tempo redentora e emocionante... Eis o pano de fundo do longa Gonzaga ― De Pai pra Filho, baseado no livro de Regina Echeverria. Na realidade, o filme foi, originalmente, uma série, na TV Globo, daquele tipo que ninguém acredita que passou na televisão. Mais ou menos no estilo Auto da Compadecida. A divulgação procurou explorar o fato de ser o mesmo diretor de 2 Filhos de Francisco. Duas histórias, inicialmente, trágicas, mas que terminam bem. Ou, menos mal (dependendo do ângulo ou da interpretação). Nivaldo Expedito de Carvalho, como Luiz Gonzaga, está OK. Mas quem arrasa mesmo é Júlio Andrade, como Gonzaguinha. Além da semelhança física, a entrega do ator nos sugere que pode ter vivido um problema de relacionamento semelhante. Se nem assim interessar, ao espectador, o drama humano, a música de Luiz Gonzaga compensa tudo. Flertando com o documentário, os realizadores alternaram cenas do longa, ou da série, com clipes, e áudios, originais ― de pai e filho. Gozaguinha adotou esse nome artístico por ser filho de Luiz Gonzaga. Mas Gonzagão adotou essa apelido por ser pai... de Gonzaguinha. Sua história se revela tão rica quanto seus talentos.
>>> Gonzaga ― De Pai pra Filho (Trailer)
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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