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Sexta-feira, 14/10/2005
Ilhabela
Julio Daio Borges

Segue a Era dos Festivais. Desta vez, a convite do Hotel Vilamar, do Ecopoint e do restaurante Nova Iorqui (com "i") - através da assessoria da Anice Aun -, seguimos, o Conselheiro e a Conselheira, para Ilhabela. Ilhabela que já havíamos visitado nos primeiros meses deste ano, em condições não tão favoráveis de transporte (nem vale a pena comentar). Ilhabela que revimos então.

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A chegada foi à noite, depois de jantar no restaurante do Recanto Santa Bárbara da Tamoios (que já foi melhor) e depois de atravessar a famigerada balsa. Seguindo as indicações para o Centro, encontramos logo a referência para a entrada na rua do Hotel Vilamar. Encontramos ainda uma atendente simpática quase à madrugada e descansamos na suíte master A9 (lembrei do Arcano9).

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O convite foi para um spa anti-stress, por sugestão do Sr. Cláudio Orfão e da Sra. Arlete Orfão, os proprietários do Hotel Vilamar. Segundo nos explicou ele, a idéia é fornecer aos paulistanos (e/ou metropolitanos em geral) um programa completo de relaxamento, incluindo ecoturismo, sauna, aula de pilates e massagem aiurvédica. Assim, o hóspede não deve se preocupar com nada, deve esquecer totalmente a rotina e se entregar a uma revigorante programação. Lá fomos nós.

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Nosso dia começou com um café-da-manhã em frente à piscina do Vilamar. Os quartos têm praticamente todos vista para a piscina e o restaurante (ou refeitório), cercado pela sala de massagem e pelo espaço onde acontecem as práticas de pilates. Como era um fim de semana normal, estávamos nós mais uma família composta de três gerações. O café foi à base de frutas, pães e bolos - pois, neste momento, já nos aguardava o Ecopoint.

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O Ecopoint foi uma idéia do Chico, consultor em comunicações de São Paulo, que mexe com turismo em Ilhabela desde 1988. Localizado numa altitude privilegiada, o Ecopoint proporciona uma bela vista da Ilha e também uma certa tranqüilidade, mesmo durante a temporada, ainda que esteja na parte norte de Ilhabela (como o Hotel Vilamar). O complexo do Ecopoint se compõe de restaurante, espaço para a prática de esportes ligados ao ecoturismo, mais piscina (com ou sem sauna) e uma extensa área verde por onde nos embrenhamos depois...

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foto de Ronald Kraag

Nossa prática começou com uma tirolesa básica e a primeira lembrança que me veio à mente foi de uma outra viagem anos atrás, para Brotas, com o ex-Colunista Juliano Maesano e sua senhora, a Cris. Apesar de bem mais em forma agora, fisicamente falando, meus temores iniciais com os cabos (lembrança de um rapel traumático) se confirmaram na trombada que dei com o freio, por imperícia, antes de chegar ao outro lado da tirolesa. Tirando a raspada e o susto, nada que me impedisse, porém, de continuar... Viria o arvorismo então.

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O arvorismo consiste em se deslocar de árvore em árvore, quase na altura da copa, por meio de escadas, cordas e similares. Nosso guia nessa hora seria o Manuel, ou Mané, e as fotos, de baixo pra cima, seriam do destemido Ronald Kraag (Ronald: como eu te disse, não esqueci de creditar). O nível de dificuldade ia aumentando e quanto mais longe a árvore, menor a quantidade de cordas, degraus, etc. No começo assusta um pouco, porque tudo balança e, mesmo amarrado com cadeirinha e cabos, a sensação - agradável - é de estar solto no ar.

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A Conselheira, para variar, revelou mais destreza que o Conselheiro (depois ela disse que era pela prática do "equilíbrio" nas aulas de pilates). O certo é que eu olhava muito para baixo, seguia muito devagar e, no final, colocava as pernas para balançar, o que despertava o medo e enrijecia a musculatura, cansando mais do que o necessário. Melhores momentos: travessia na corda bamba e corrida pela rede - que davam, ambas, uma falsa impressão: a primeira de ser muito difícil, a segunda, ao contrário, de ser muito fácil.

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Como o ânimo da Carol seguia, o Mané, depois de histórias muito engraçadas sobre o Adventure Sports Fair (de São Paulo, onde trabalhou), sugeriu que nos lançássemos numa escalada (no mesmo estilo da Casa de Pedra, do meu colega de Pueri, Alê). A Carol, novamente, foi mais guerreira do que eu e enfrentou as dificuldades, subindo na vertical, até o terceiro estágio. Eu não passei da primeira pedra (ou "pose"); travei a perna e não consegui subir nada (mesmo com o Mens sana...). O Mané deu uma demonstração rápida e provou porque era campeão na modalidade.

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Para fechar o Ecopoint, seguimos por uma bela trilha, enquanto o Mané nos contava, desta vez, histórias de turistas hispano-americanos que, em profusão, desembarcam em Ilhabela. Acompanhou-nos um fiel cão (do qual, por injustiça, esqueci o nome) até uma pedra, ou um encontro de pedras, próximo a uma cachoeira, já praticamente no Parque Estadual, onde o Chico pretende implantar um auditório natural, ou algo assim, para eventos culturais, possivelmente música, dentro de uma tremenda de uma gruta.

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Passamos ainda alguns momentos desfrutando da vista deslumbrante nas redes do Ecopoint (na volta da trilha). O Chico inclusive nos convidou para o happy hour de lá, que acontece na sexta-feira, e gostaríamos de voltar. O Ronald, habilidosíssimo com tecnologia, já nos proveu com as fotos num mini CD, enquanto relatava emocionantes histórias de seu pai, um ex-soldado japonês, em plena Segunda Guerra Mundial, que milagrosamente sobreviveu a Hiroshima (em 2005 faz 60 anos). Eu lembrei dos relatos do John Hersey e me compadeci do Ronald, que tem de se consultar com especialistas todos os anos pelo risco do câncer pós-radiação.

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O almoço ficaria por conta do Hotel Vilamar. A senhora Órfão nos prepararia, especialmente, uma salada delicada de legumes e um risoto reforçado de lula. Embora o Vilamar normalmente não sirva essa refeição, foi uma cortesia da dona. Com o adiamento da sessão de pilates para o dia seguinte, a tarde (ou o resto dela, depois das aventuras no Ecopoint) ficaria reservada(o) ao "merecido descanso", no dizer do roteiro preparado pela Anice Aun.

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No nosso passeio noturno pelo Centro de Ilhabela, reconheceríamos alguns pontos da nossa outra passagem no primeiro semestre deste ano. A começar pelo cibercafé (eu estava particularmente aflito para saber como andava o Digestivo Cultural), passando, mais tarde, pela sorveteria Sottozero. Conheceríamos, com mais vagar, a livraria Ponto das Letras (me pareceu uma inspiração mais modesta da Argumento do Rio) e a pizzaria Pier Pizza (segundo nos indicava um folheto, cuja foto do pedaço instigava).

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Num momento de brainstorm, eu e a Carol tivemos idéias mirabolantes sobre a expansão do Digestivo em domínios do mundo real... - mas nada podemos revelar (a não ser a investidores cadastrados, em regime de total confidencialidade). Brincadeiras à parte, passeamos mais um pouco por um Centro tranquilíssimo, salvo os arredores da Praça, e voltaríamos no dia seguinte especialmente para registrar essas passagens (por isso as fotos com a luz do sol).

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O segundo dia, infelizmente, amanheceu com chuva e frustrou nossos planos de correr pela praia. A ciclovia, ou pista de corrida de Ilhabela, dá a impressão de varrer todas as praias do norte, como conseguimos observar nas nossas passadas de carro. Depois do café da manhã, entre as 9 e as 11, o Conselheiro e a Conselheira se concentraram nos seus livros. Eu estava entretido com as obras (quase) completas de João Ubaldo Ribeiro pela Nova Aguilar e a Carol estava envolvida com - fogueira, Milton Hatoum! - Dan Brown (ela não larga o Langdon, que eu chamo de Longman).

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Às 11 horas pontualmente tivemos uma maravilhosa seção de pilates com a professora Erika Menichelli (originalmente, também, de Sampa). Foi praticamente um personal pilates porque só estávamos eu e a Carol e porque a Erika prefere, realmente, trabalhar com grupos de poucas pessoas. Eu, obviamente, estava acostumado com o pilates da academia, em que você obedece às ordens e tem de obrigatoriamente acompanhar o grupo - porque, entre vinte, trinta pessoas, o professor não pode te dar total atenção e esperar que você faça cada posição no seu próprio ritmo.

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A Erika, embora seja muito low-profile na aparência, tem aquela "mágica" de alguns professores de pilates e, sobretudo, de ioga: começa devagar, falando baixo e pausadamente, mas vai hipnotizando todo mundo, de tal maneira que, quando você vê, está totalmente entregue a seus comandos. Eu senti isso poucas vezes na vida. Com um professor de ioga da USP (o único "esporte" que pratiquei no CEPEUSP): era uma sensação de que podia levitar quando saía da sala. E a Carol teve um momento similar, num workshop de ioga no ano passado, em que, depois de umas práticas com respiração, ela saiu da sala até acreditando em coisas como "alma" e "vida após a morte".

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Fora essa habilidade como professora, a Erika tem uma trajetória de vida legal: depois de um histórico de problemas com a coluna, ela descobriu o pilates e se libertou. Se antes não conseguia nem sentar direito, agora faz essas poses que vocês estão vendo nas fotos. Numa tradição meio de mestre-discípulo, que me lembrou a psicanalítica, a Erika se formou em Salvador (BA) com uma seguidora do próprio Joseph Pilates (ou com uma seguidora da seguidora). O homem Pilates, ao que parece, como muitos pioneiros, não foi suficientemente reconhecido em vida mas, graças à Erika, me convenceu a voltar a praticar...

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Nosso almoço, neste segundo dia, foi no Nova Iorqui (com "i"), onde fomos gentilmente recebidos pela dona, Sueli, simpaticíssima. Ela - mais o pessoal do Vilamar - fez (fizeram) questão de preparar um prato especial, que, na próxima temporada, vai justamente levar o nome do Hotel Vilamar. Uma bela anchova com cobertura de alcaparras, mais cogumelos, acompanhada de banana assada e abacaxi - fora o mexilhão e a "lula à doré". Fora, ainda, uma salada, mais arroz e feijão. Um verdadeiro banquete do qual não demos conta de nem a metade. Fora os saborosos drinks!

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O Nova Iorqui, que fica ao sul da Ilha, e que tem uma vista privilegiada (o Fabio já havia me alertado), recebeu esse nome por causa de uma história peculiar. Conta a Sueli que havia uma turma de amigos, com casa no sul de Ilhabela, que gostavam muito de se reunir mas que, como em toda turma, tinham um amigo "mala". Assim, como eram todos bem de vida, quando queriam se livrar do chato, anunciavam para o próprio: "Estamos indo para Nova York!". Deu tão certo que a dona do Nova Iorqui - que tinha inclusive outro nome - adotou, e viu sua pousada se transformar num bem-sucedido restaurante. (Aliás, quem freqüenta lá é o Robert Scheidt; mas fica tranqüilo, ô, Rôbert, porque eu não vou contar que você também faz Fórmula...)

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Na volta (volta mesmo), demos uma passada na pousada Oito Ilhas, dali a 500 metros, graças à simpatia contagiante do seu dono, o Zé. (Quem sabe, contamos os detalhes numa próxima Era dos Festivais...) O adeus a Ilhabela ainda contou com uma última rodada no Centro, para fotos e para uma segunda sorvetada na Sottozero... A estrada estava mais sossegada (a balsa, também), apesar do dia chuvoso e apesar do domingo num horário de rush - como eu disse, era um fim de semana normal. O Conselheiro e a Conselheira agradecem a hospitalidade do pessoal do Hotel Vilamar, do Ecopoint, do restaurante Nova Iorqui e a presteza da equipe da Anice Aun. Saudações a todos, até a próxima!

* fotos de Ana Carolina Albuquerque
(salvo quando indicação em contrário)

Julio Daio Borges
14/10/2005 às 14h50

 

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