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Terça-feira, 26/4/2022
A compra do Twitter por Elon Musk
Julio Daio Borges

Meu perfil no Twitter é de 2008. Tenho uma relação de amor e ódio com a plataforma. Fui um grande entusiasta no começo, quando era possível descrevê-la como uma “news network” (uma rede de notícias). Ao mesmo tempo, já perdi a conta de quantas vezes instalei e desinstalei o aplicativo.

É a rede em que fomos mais bem-sucedidos (eu e minhas iniciativas). Lá tenho alguns milhares de seguidores, na “física” - ainda que raramente atualize. O perfil do Digestivo tem algumas dezenas de milhares - e se atualiza sozinho. O do Portal dos Livreiros, alguns milhares - e, durante a pandemia, era sensível a relação entre vendas e “tweets”.

Escrevi sobre o Elon Musk em 2016, antes de ele encabeçar a lista da Forbes. É um dos maiores empreendedores da internet e, se chegar a Marte, será um dos maiores de todos os tempos. É “o” rival de Jeff Bezos, da Amazon - que, aliás, foi destronado por ele (inclusive na corrida espacial).

A notícia de Musk comprando o Twitter é boa para a rede social, ainda que os desafios sejam consideráveis.

Apesar da simpatia que o Twitter desperta em pessoas como Musk, em matéria de rede social teve um sucesso ainda modesto. Enquanto o “conglomerado” Facebook tem dois bilhões de usuários, o Twitter tem duzentos milhões. E, enquanto a Meta (a holding do “ex” Facebook) vale mais de meio trilhão de dólares, o Twitter foi comprado por menos de cinquenta bilhões.

Mark Zuckerberg, uma vez, descreveu os fundadores do Twitter como “três palhaços que se perderam dentro de uma mina”. Enquanto isso, Musk declarou que sua motivação é menos financeira e mais uma “defesa” da liberdade de expressão. Alguém pensou em Trump? Lembrando que o ex-presidente foi expulso do Twitter há pouco mais de um ano.

Outro alguém - com argúcia - observou que o Twitter é, na verdade, uma economia de bilhões de dólares em marketing (para seu novo dono). Afinal, Musk conta com mais de oitenta milhões de seguidores. E - como todo mundo - precisa divulgar o que anda fazendo na vida (Tesla e SpaceX incluídas).

É significativo que Bezos tenha comprado um jornal, o outrora nobre mas deficitário Washington Post - enquanto que Musk, ao invés de uma publicação tradicional, escolheu uma plataforma. “Seria um novo tipo de barão da mídia?”, editoriais se perguntaram.

Lembrando que, desde a internet, o negócio de mídia não é mais o mesmo. Com a publicidade majoritariamente dominada por Alphabet (Google, YouTube etc.) e Meta (Instagram, WhatsApp etc.) -, o conteúdo dificilmente reinará de novo (mesmo com um Bezos no comando).

O caso da Netflix - que bateu numa espécie de teto em número de assinantes, e viu sua cotação desabar neste ano - é ilustrativo: na guerra via streaming, em que combatem novos e antigos entrantes, ganha quem tem os bolsos mais fundos? Apple e Amazon (de novo)?

Uma década sem Steve Jobs nos faz pensar o que ele teria dito sobre a aquisição de Musk. Nos últimos anos, cresceu a suspeita de que a Apple estaria desenvolvendo um “eletric vehicle”. Tim Cook - que é “operations” e não é “de produto” - tem realmente chance?

Jobs, entusiasta do “hardware”, teria enxergado no Musk “construtor de foguetes” um seguidor? Lembrando que o negócio de Jobs não era bem o espaço - tanto que desviou a atenção de todo mundo para os computadores (um subproduto da Segunda Guerra).

Naval - um pensador do Twitter (sim, isso existe) - declarou que Musk o inspira a realizar “grandes coisas”. Faz a humanidade dar um passo adiante, nas palavras de Jobs (em “think different”).

O fato é que, se o Twitter já era uma grande distração para o sujeito que pretendia nos salvar de um planeta frágil e belicoso, imagine, agora, ter de lidar com assuntos como “fake news”, polarização, algoritmos e “bots”?

Eu quase prefiro Marte... E vocês?

Boa sorte, @twitter e Elon Musk!

Para ir além
"Elon Musk" (2016). "A Eclosão do Twitter, de Nick Bilton" (2014). "Troquei meus feeds RSS pelo Twitter" (2009).

Julio Daio Borges
São Paulo, 26/4/2022

 

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