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Segunda-feira, 13/1/2014
A morte da MTV Brasil

Julio Daio Borges




Digestivo nº 496 >>> Desde o advento da internet, a MTV já foi acusada de muita coisa. No auge do MySpace (quando da aquisição por Rupert Murdoch), a MTV foi acusada de não ter inventado as redes sociais. Afinal, na década de 90, a emissora tinha o público jovem "na mão"... Por analogia: por que a MTV não inventou o Facebook, ou o Instagram? (Ou, no Brasil, o Orkut?) Também já acusaram a MTV de não ter inventado o YouTube. Afinal, a emissora detinha o monopólio dos vídeos musicais em décadas anteriores... Acontece que a Blockbuster não inventou o Netflix. Nem a Barnes & Noble inventou a Amazon. Do mesmo jeito, as gravadoras não inventaram o iTunes, nem a Apple (apesar de existir, originalmente, uma gravadora com esse nome). A verdade é que ninguém detém o monopólio da inovação. Nem empresas "de ponta". E trabalhar com público jovem não é garantia de nada. É garantia, talvez, de que você pode passar de moda. No Brasil, a MTV local foi "tendência" nos anos 90. Tanto que influenciou a linguagem da televisão brasileira no período. Mas, a partir dos anos 2000, a MTV Brasil, assim como sua matriz, perdeu o norte. O negócio da música, com a pirataria e o download, deixou de ser o que era. Com as gravadoras em crise, a MTV perdeu seu alicerce: a veiculação de clipes (jabá?). A programação, no Brasil, deu uma guinada "comportamental". O alvo continuou sendo o público "jovem", mas o consumo deixou de ser direcionado para a música. A MTV Brasil poderia ter retirado o "M" do nome, porque funcionava nos moldes de uma TV qualquer, ou de um canal, dependendo de publicidade. E a MTV Brasil lançou humoristas, além de VJs, que foram alçados ao mainstream. Mas por que a MTV não teve a ideia do Porta dos Fundos? (Seguem as perguntas.) Ainda assim, o grosso do faturamento da emissora se concentrava num único evento anual, o VMB, o "oscar" da MTV Brasil, com shows e apresentadores em performances que pretendiam entrar para a História. Com a última reestruturação do Grupo Abril, que descontinuou títulos como Alfa e Bravo!, e ameaçou pilares como Playboy e Capricho, a MTV Brasil acabou sacrificada. Sua "morte" foi dramática, com direito a contagem regressiva e o retorno de VJs que marcaram época e que haviam sumido do mapa. A geração que assistiu ao nascimento da emissora, nos primórdios da década de 90, se comoveu. Mas e a geração de jovens que cresceu com a internet? O canto do cisne, que deve ter retirado a audiência do traço, não foi suficiente, contudo, para reverter o processo. A MTV Brasil, apesar dos pesares, não "morre". Ela retorna às mãos de sua controladora original, a Viacom. E qual é o legado dessa primeira encarnação da MTV para o Brasil? Será que é musical? Será que é a de ter atualizado o "gosto" para um padrão mais "globalizado"? Será que é ter promovido encontros musicais nos VMBs? É mais provável que sua contribuição tenha menos a ver com o "M" do que com o "TV". Se o rock brasileiro dos anos 80 descobriu a juventude como mercado, a MTV Brasil descobriu como audiência televisiva. É óbvio que a síndrome de Peter Pan cansa, mas não foi a MTV que inventou, foi o rock ― e a internet, desde os "diários de adolescente" (blogs?), não tem feito muito para reverter esse quadro...
>>> O fim da (primeira) MTV Brasil
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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