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Quarta-feira, 18/5/2011
Riobaldo vai a julgamento
Yuri Vieira

Devia ser uma experiência impressionante ler Grande Sertão: Veredas sem saber o verdadeiro sexo de Diadorim. Depois que colocaram Bruna Lombardi para viver a personagem ― naquele seriado da Globo ―, estragaram completamente o pedido de Guimarães Rosa, ao final do livro, para que o leitor não revelasse essa informação ao sugerir sua leitura aos amigos. (E cá estou eu estragando-o de novo ― mas nem tanto quanto a Globo...) O drama central do romance é a convulsão interior de um jagunço (macho pra caralho) apaixonado pelo colega ― o qual sabia os nomes dos passarinhos, das árvores e que costumava chamá-lo para assistir ao lindo pôr-do-sol, essas "frescuras" ― e os caras anunciam a Bruna? Sacanagem. Rosa deve ter dito do lado de lá: "O menino aqui tá muito puto, muito puto!" (Hilda Hilst me contou que, após ler Grande Sertão, telefonou ao Rosa para elogiar o livro e ele respondeu: "O menino aqui é muito bom, o menino é muito bom".)

Ok, o livro se sustenta perfeitamente, mesmo com o conhecimento prévio desse dado. As peripécias, os inúmeros dramas e principalmente a linguagem empregada são de primeiríssima linha. Mas, hoje em dia, lê-lo é como assistir ao filme O Sexto Sentido sabendo de antemão que o cara está morto desde a primeira sequência. São duas leituras completamente diferentes: em uma o cara é um gay enrustido, um homem lutando contra o que julga ser um desvio da ordem natural; noutra, ele é apenas um joguete da ironia do destino. E ambas são extremamente únicas e válidas.

Pena que Riobaldo ― assim como Mark Twain e Monteiro Lobato, ambos por suposto racismo ― será preso após a aprovação de uma lei anti-homofobia. Quem leu o livro sabe como ele passou a tratar mal Diadorim, conforme seu sentimento tornava-se mais intenso.

Yuri Vieira
18/5/2011 às 12h19

 

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