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Segunda-feira, 10/6/2013
Caro Francis, documentário de Nelson Hoineff

Julio Daio Borges




Digestivo nº 492 >>> Paulo Francis deixou um buraco na imprensa brasileira, que nunca mais foi preenchido, desde sua morte há 16 anos. Além do perfil de Daniel Piza, houve alguns "ensaios" de biografia, mas nada muito representativo. Houve, ainda, reedição dos livros do próprio Francis, até a publicação de um inédito, para variar, polêmico. Biógrafos de porte no Brasil não creem que Franz Paul Trannin da Matta Heilborn renderia uma biografia, mas Nelson Hoineff dedicou ao titular do Diário da Corte um documentário. Caro Francis, embora anunciado nos primeiros anos da década de 2000, só estreou em 2009. E, agora, está disponível na internet. Como o roteiro tem a colaboração de Daniel Piza, o foco é no chamado "late" Francis: o "de direita", colunista de O Estado de S. Paulo e de O Globo, comentarista da TV Globo e fundador do programa Manhattan Connection. Ainda que Caro Francis dê algum espaço para o admirador de Trótski, que foi preso durante a ditadura e que fundou O Pasquim, o documentário consagra a ideia de que Paulo Francis morreu no auge da carreira, depois da conversão ao capitalismo, da adesão às Organizações Globo e do beneplácito de Roberto Marinho. São novidade os depoimentos de Boris Casoy nesse sentido. Também as histórias de Hélio Costa, que ajudou a construir a personagem do comentarista do Jornal da Globo, que rendeu imitadores como Chico Anysio. Surpreende, ainda, a presença de Fernanda Montenegro, evocando o jovem crítico de teatro (que ofendeu Tônia Carreiro, para, na maturidade, se arrepender e se retratar mais de uma vez). A conclusão de Caro Francis é triste, e se perde um bom tempo com o processo que, na versão de muitos, levou-o à morte. Outra novidade é o depoimento de Joel Rennó, na época presidente da Petrobras, que moveu o clamoroso processo contra o jornalista nos Estados Unidos, no valor de 100 milhões de dólares. Pensando assim, quem ― senão um bilionário ― não morreria do coração ao sofrer um processo desse vulto? Destaca-se, também, a justificativa do médico pessoal de Francis, Jesus Cheda, que, na pressa de voltar ao Brasil para o Carnaval, diagnosticou uma bursite, quando o jornalista estava virtualmente infartando. Há espaço, ainda, para Caio Túlio Costa, então ombudsman da Folha, cujas observações levou Francis a romper com os Frias e debandar para o Estadão... No que se refere ao "late" Francis, o documentário é, portanto, bastante completo. Sonia Nolasco encerra com as declarações mais pungentes, sobre os últimos momentos de Francis, antes da chegada dos paramédicos (ainda que reconheça ter aceitado a morte, finalmente, depois de mais de sete anos). Paulo Francis mereceu um revival, nos últimos tempos, com um especial do GNT, no ano passado, o lançamento de uma coletânea de seus artigos na Folha e uma matéria, no mesmo jornal, sobre o futuro de sua biblioteca, que continua intacta em Manhattan. Numa entrevista reprisada por ocasião da morte de Ivan Lessa, o filho de Elsie e Orígenes Lessa, relembrou, mais uma vez, Paulo Francis, por insistência da Alberto Dines, no Observatório da Imprensa. O grande desafio de Franz Paul Trannin da Matta Heilborn é, como sempre foi, conquistar as novas gerações, quando não mais está diariamente no Jornal da Globo, semanalmente no Manhattan Connection, às quintas e aos domingos no Estadão e n'O Globo. Quando os próprios jornais estão ameaçados no Brasil, sobreviver, para qualquer jornalista ― vivo ou morto ― é um desafio e tanto.
>>> Caro Francis
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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