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Quarta-feira, 3/8/2011
Rubem Braga nos Cadernos de Literatura Brasileira, do IMS

Julio Daio Borges




Digestivo nº 481 >>> Apesar dos recentes jornalistas na Academia Brasileira de Letras, um jornalista, ou melhor, um cronista nos Cadernos de Literatura Brasileira ainda pode chamar a atenção. Mas, não, Rubem Braga. Primeiro, porque não foi simplesmente jornalista. Depois, porque não foi apenas cronista ― foi o maior cronista que o Brasil produziu. Convertendo-se numa espécie de sábio instantâneo das folhas. A ponto de Millôr Fernandes confessar, quando de sua morte, ter sido Rubem Braga não apenas o jornalista, o cronista ou o artista, mas, sim, o "ser humano" que ele mais admirou em vida. Nesta edição dos Cadernos de Literatura Brasileira, reuniram Danuza Leão, Boris Schnaiderman, José Castello e Sérgio Augusto para homenageá-lo. Danuza, para falar do homem, já que Braga, com seu jeito matreiro, conquistou só as mais belas e desejadas. Castello, para falar, justamente, dos aspectos literários. E S.A., para converter Braga em ensaio. Há, ainda, Humberto Werneck, um cronista nosso, mostrando porque Rubem Braga fundou um gênero, e porque, indiscutivelmente, ele se coloca entre os grandes das nossas letras no século passado. A prova dos nove, contudo, é deixar que o próprio Braga fale. E, para isso, somos brindados com uma edição de, novamente, Humberto Werneck e do escritor Michel Laub. Sobre sua escrita, por exemplo, Braga era modesto (e lapidar): "Confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de ouvido". Sem muitos elogios para o gênero que inventou: "A crônica é a subliteratura que o cronista usa para desabafar perante os leitores". Imitando, em termos de estilo, o pavão: ao buscar "o máximo de matizes com o mínimo de elementos". Sendo seu objetivo final sempre o mesmo: ansiava "[pela] joia de uma palavra preciosa, [pelo] diamante de um gesto puro". Vendo a grandeza no cotidiano ― pois: "Naufragamos a todo instante no mar bobo do tempo e do espaço, entre as ondas de coisas e sentimentos de todo dia". Solitário empedernido: "Às vezes me sinto mais sozinho quando estou acompanhado". Não acreditava, como Sêneca, nos grandes deslocamentos (atrás da espiritualidade perdida): "Eu poderia mudar de cidade, mas afinal eu não mudo de pessoa". Reclamando, até, do jornalismo (que lhe dava o pão): "No fundo talvez não seja muito bom negócio vender a alma. A alma às vezes faz falta". Profissional de "viver em voz alta", Werneck evoca, com Laub, Montaigne (para explicar o fenômeno Braga): "Pintando-me para outrem, pintei-me em cores mais nítidas do que minhas cores originais". E Sérgio Augusto conclui a polêmica de um cronista, ou de um jornalista, nos Cadernos de Literatura Brasileira: "Não existem gêneros menores, apenas autores menores".
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Editor
 

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