A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?
Emília, a própria, no Talqualmente, que fala de tradução (e que linca pra nós).
Putz, que saudades da Emília. Ela foi a companheira inigualável das minhas primeiras incursões literárias. Acho que é uma das maiores personagens já criadas em toda literatura. Monteiro Lobato disse que, a certa altura de sua obra, não precisava mais pensar as falas da Emília. Ela falava com ele e impunha sua verve inconformista, libertária e independente nos textos. Ele tinha até que policiar um pouco porque a Emília não tinha papas na língua e, às vezes, dizia coisas chocantes. Para uma criança, ouvir a Emília era uma aula de livre-pensar.
Faço minhas as palavras do Guga! Que saudade! Quando vai aparecer um personagem tão forte, sagaz e inteligente como Emília??
Se todas as crianças pudessem ter esse privilégio...
Bom texto.
Guga, quando em Sampa, não deixe de ir ao Museu da Língua Portuguesa e se deparar com esse trechinho, entre outras coisas maravilhosas. Para a geração que cresceu lendo Monteiro Lobato é uma volta nos bons tempos do sítio. Tá lá, na Praça da Língua.