Traga os cigarros, os cafés e os beijos e prometo, nada será como antes. Esqueça as grandes mazelas e delicie-se com a ironia das pequenas desgraças. Desperdice companhias agradáveis e marque um encontro com seu eu lírico. Voe alto e não caia do abismo sem o bat-cinto-de-utilidades; caso caia, ria do seu cadáver desmembrado e pense: "Jamais conseguiria isso com yoga!". Não jogue fora os livros do Paulo Coelho; faça fogueira com eles e chame os amigos para um culto satânico entre marshmallows no espeto e PJ Harvey. Não chore nos velórios — eles são os últimos shows e os defuntos, as estrelas. Não conte piadas em enterros — a última piada pode ser... mortal. Escute Norah Jones, e quando mais velho escute Billie Holiday — os pequenos peixes sempre levam aos grandes. Sinta a paixão apunhalar o seu coração; mas não esqueça de renascer depois ou Nietzsche vai se revirar no túmulo cinzento. Perca seu guarda-chuva, deixe que a chuva molhe as suas roupas e cabelos, mas não esqueça de passar no Carrefour e comprar chá de camomila depois. Leia Platão, Aristóteles e Virginia Woolf, mas não deixe passar a Tititi que prometer responder a seguinte pergunta: "Cher, Thalia e Marilyn Manson tiraram mesmo as costelas?". Saia para os inferninhos mas não os leve pra casa — o lar é o céu que você tenta disfarçar de inferno. Pense sempre nos amigos como família, mas não se engane — "família" não é sinônimo de "amizade". Tome sopa num dia de verão, tome sundae num dia de inverno, invente neuroses e dê a elas nomes de Smurfs — quebre as convenções e estará aumentando o mercado de trabalho da antropologia. Acredite na perfeição, na felicidade e na eternidade de um único momento e me procure em seguida — tentarei absorver um pouco por osmose. Viva cada dia como se fosse o primeiro e tente ver a beleza na falta de obviedade. Não seja medieval, tampouco renascentista. Seja enfaticalista! Não veja o vídeo do Filtro Solar em demasia, ou acabará fazendo algo como... isso. Enfim... viaje, abandone, fuja, corra, e volte. Volte. Ame, odeie, destrua, reconstrua, erre, e seja sempre fiel ao que te conduz. Amém.
Uau, que texto delicioso, sábio e despretensioso. Tentei comentar no blog do cara, mas não consegui, então deixo aqui meu comentário. Eu estava ainda sonolenta, parecendo um zumbi na frente do computador tomando café, mas de repente minha coluna se endireitou e meus olhos se abriram mais.