Oiticica e a Tropicalondon | Paula Góes

busca | avançada
124 mil/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Bela Vista Cultural | 'Saúde, Alimento & Cultura'
>>> Trio Mocotó
>>> O Circo Fubanguinho - Com Trupe da Lona Preta
>>> Anaí Rosa Quinteto
>>> Chocolatte da Vila Maria
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Juntos e Shallow Now
>>> Contos Clássicos de Fantasma
>>> O bom, o ruim (e o crítico no meio)
>>> O surpreendente Museu da Língua Portuguesa
>>> As Últimas, de Pedro Doria e Carla Rodrigues
>>> Kafka: esse estranho
>>> Live: tecnologia e escola
>>> Cuba e O Direito de Amar (3)
>>> Política versus literatura
>>> Pecados, demônios e tentações em Chaves
Mais Recentes
>>> Americae Praeterita Eventa de Helmut Andrä - Edgard de Cerqueira falcão pela Universidade de São paulo (1966)
>>> Arte da África - Obras-primas do Museu Etnológico de Berlim de Alfana Hug - Peter Junge pela Ccbb (2004)
>>> Picasso: Guerra Y Paz de María Teresa Ocaña pela El Cep I La Nansa Edicions (2004)
>>> Portugual - gentes, cores, saudades de Sergio Telles pela Record
>>> 500 yers of Arquitecture in The Cuban Society - 500 años de Arquitectura en la sociedad Cubana de Vários Autores pela Simar (2002)
>>> Praia da Saudade - A História do Iate Clube do Rio de Janeiro 1920 - 2005 de Hélio Barroso pela Iate Clube do Rio de janeiro (2005)
>>> Tradições Negras, Políticas Brancas de Gabriel O. Alvarez - Luiz Santos pela Ministério da Previdência Social (2006)
>>> Poesia da Imagem, Poesia da Palavra de Seed - Secretaria de Estado de Educação PR pela Governo do Estado do Paraná (2010)
>>> Sandman - Fim dos Mundos de Neil Gaiman pela Conrad (2007)
>>> Índios - Os Primeiros Brasileiros de João Pacheco Oliveira pela Sesc SP (2008)
>>> Livro Educação em Foco de Sílvia Regina Teixeira Pinto de Albuquerque pela Ottoni (2011)
>>> Livro O Mistério da Caixa Preta , Violência e criminalidade de Pedro Scuro Neto, PH.D. pela Oliveiras Mendes (1998)
>>> Cristianismo E Espiritismo de Léon Denis pela Bibliomundi Serviços Digitais Ltda (2024)
>>> Livro Tratado De Comunicacão Organizaciona e Política de Gaudência Torquato pela Thomson Learning (2004)
>>> Livro Mensageiro Da Cruz de Watchman Nee pela Vida (2009)
>>> Los Hermanos Karamazov II de Fiodor M. Dostoyevski pela Altaya (1995)
>>> Renda Fixa Não é Fixa! de Marília Fontes pela Empiricus (2017)
>>> Entre Necessidade E Desejo. Diálogos Da Psicologia Com A Religião de Geraldo José De Paiva pela Loyola (2001)
>>> Recomece de Bráulio Bessa pela Sextante (2018)
>>> O Príncipe Medroso E Outros Contos Africanos de Anna Soler-pont pela Companhia Das Letras (2015)
>>> Dicionário Alemão-português de Leonardo Tochtrop pela Globo (1943)
>>> A Arte De Escrever Bem. Um Guia Para Jornalistas E Profissionais Do Texto de Dad Squarisi e Arlete Salvador pela Contexto (2015)
>>> Entre Passos E Rastros de Berta Waldman pela Perspectiva (2002)
>>> Assassinato Na Literatura Infantil: Uma Aventura Da Turma Do Gordo de João Carlos Marinho pela Global (2005)
>>> O aprendiz do ladrao de tumulos de Allan Stratton pela Planeta Jovem (2013)
ENSAIOS

Segunda-feira, 12/11/2007
Oiticica e a Tropicalondon
Paula Góes
+ de 8400 Acessos

O ano era 1969. Naqueles tempos, fumar no topo dos ônibus vermelhos de dois andares que ainda cortam as ruas de Londres não era contravenção, e cigarro era liberado ainda em salas de cinema, auditórios de teatro, galerias de arte. Naquele ano, Pelé marcou o milionésimo gol. O Led Zeppelin lançava o primeiro álbum homônimo, os Beatles se apresentavam em público pela última vez, num concerto improvisado no terraço da Apple Records que foi interrompido pela polícia. Caetano Veloso tinha acabado de chegar ao exílio.

Dentre os vários motivos para a perseguição política, pesou a exibição no palco da boate carioca Sucata, durante um show com Os Mutantes e Gilberto Gil, da imagem de uma bandeira com a figura de um traficante famoso na época, o Cara-de-Cavalo, estendido morto no chão, assassinado violentamente pela polícia. Em vez de legenda jornalística, lê-se no estandarte os seguintes dizeres: “Seja marginal, seja herói”. Aquela bandeira-poema, que revoltou as Forças Armadas e serviu de pretexto político para o fim da temporada na Sucata e posteriormente para o exílio para Gil e Caetano, era obra de um jovem artista plástico carioca, Hélio Oiticica.

Foi também uma obra do artista, o penetrável Tropicália, que batizou e ajudou a consolidar a estética do movimento tropicalista, que celebra 40 anos. Penetrável, ou o que hoje se chama por aí de "instalação", é uma obra de arte que vai além da experiência visual. O espectador entra na obra de arte construída na forma de um labirinto e nela vivencia várias experiências que passam pelo tato, olfato, audição e até paladar. Tropicália foi uma das primeiras instalações do mundo, tendo estreado em 1960 na exposição Nova Objetividade Brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Naquele ano de 1969, quando tudo parecia ser permitido do outro lado do mar, o penetrável Tropicália estava em Londres, em uma lendária exposição na Whitechapel Art Gallery. Essa exposição foi a maior da carreira de Hélio Oiticica e um dos eventos de artes visuais mais radicais já vistos na Grã-Bretanha. Estruturada em ambiente que estimulava a participação contínua do público, com pinturas, esculturas e instalações, Whitechapel Experience, como Oiticica a chamava, também contou com mais uma instalação do artista até então desconhecido do público inglês. Tropicália e Éden rapidamente conquistaram os visitantes – para quem nunca viu uma arara ou uma favela na vida, era muito difícil não interagir com todo aquele neologismo em forma de arte.

Quase 40 anos depois da primeira visita, Tropicália agora vive no 5º andar do Tate Modern, a galeria de Arte Moderna de Londres, onde a instalação, ou melhor, o penetrável, toma uma sala inteira. Há plantas tropicais em potes de barro por toda a parte, e em uma gigantesca gaiola, duas arraras vivas, uma vermelha e uma azul, que são responsáveis pela música de fundo da experiência. O chão, coberto de pó de serra, areia e pedregulhos, acrescenta à sonoridade da sala. As paredes são cheias de poemas, muitos deles intraduzíveis, com suas devidas meias versões em inglês.

Mas é o barraco de madeira e chita que fica no epicentro da sala que inevitavelmente deixa um sorriso no rosto de quem se deixa levar pela curiosidade. A experiência dura um minuto ou menos, 60 segundos surpreendentes. As pessoas esperam, educadamente, na fila para ver o que tem lá dentro. Dá um frio na barriga na entrada, o mistério, a cortina de retalhos de plástico coloridos, a volta em espiral entre quartos de tecido e, no final, uma velha TV preto e branco mal sintonizada em um canal brasileiro de televisão. A curiosidade é matada. Fica uma perplexidade quase sem explicação, e um quê de satisfação e um gostinho de liberdade.

Além do penetrável Tropicália, considerada uma peça de arte histórica, o Tate comprou oito outras obras do Oiticica para a sua coleção permanente de exibição gratuita, com a ajuda do Art Fund. As peças são intrinsecamente ligadas ao período que o artista morou em Londres, um ano apenas que desembocou na exposição em Whitechapel. O Tate também hospedou, no verão desse ano, uma retrospectiva completa do trabalho de Hélio Oiticica. Hélio Oiticica também representou as artes plásticas na grande exposição em homenagem à Tropicália, promovida em 2006 pelo centro cultural Barbican.

Hélio Oiticica, o artista rebelde e marginal brasileiro, morreu em 1980, aos 43 anos, de ataque cardíaco. Foi uma carreira breve, na qual mesmo tendo participado de diversas bienais e grandes eventos nacionais e internacionais, e sido reconhecido em vida como um grande nome da arte então de vanguarda e pensador importante, não apenas na Inglaterra, mas também na Suíça, EUA, Japão, França – Hélio Oiticica nunca traiu as suas raízes marginais – ele se considerava marginal, e marginal era. Marginal, mas não alienado. Por trás do movimento Tropicália nas artes plásticas, regia a inquietude e o inconformismo social, assim como também o alerta para os perigos do consumo de uma imagem folclórica, superficial e estereotipada de um Brasil tropical.

"Quando digo ‘posição à margem’ quero algo semelhante a esse conceito marcuseano: não se trata da gratuidade marginal ou de querer ser marginal à força, mas sim colocar no sentido social bem claro a posição do criador, que não só denuncia uma sociedade alienada de si mesma mas propõe, por uma posição permanentemente crítica, a desmistificação dos mitos da classe dominante, das forças da repressão, que além da repressão natural, individual, inerente à psichê de cada um, são a manutenção dessa mais-repressão."

* * *

Oiticica in London, livro editado por Guy Brett e Luciano Figueiredo e recém-publicado pela Tate Publishing, traz uma investigação cuidadosa, pela primeira vez executada, do período da vida do artista em solo inglês. Com entrevistas com contemporâneos do artista, escritos que nasceram durante esse ano em Londres (pela primeira vez traduzidos para o inglês), fotos, resenhas e cópias das páginas do catálogo original da exposição na Whitechapel Gallery, o livro foi considerado leitura essencial não apenas para quem quer saber mais sobre Tropicália, mas também conhecer a evolução da avant-garde londrina.

Nota do Editor
Paula Góes é jornalista e tradutora radicada em Londres. Ela escreve sobre tradução no Talqualmente e colabora com o projeto Global Voices Online.


Paula Góes
Londres, 12/11/2007
Mais Paula Góes
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Os Abutres
Taylor Caldwell
Record



Livro Administração Você Está Louco! Uma Vida Administrada de Outra Forma Administração & Negócios
Ricardo Semler
Rocco
(2006)



Brasil: a Construção Interrompida
Celso Furtado
Paz e Terra
(1992)



Livro Fama & Anonimato o Lado Oculto de Celebridades, a Fascinante vida de Pessoas Desconhecidas e um Inusitado Perfil de Nova York, por um Mestre da Reportagem
Gay Talese
Companhia das Letras
(2004)



A regra de três
Antonio Gala
Record
(1998)



O Poder Infinito da sua Mente 1 + Você Consegue
Lauro Trevisan
Mente
(2012)



Desenvolvimento Sustentável - autografado
Emerson Baldotto Emery
Fórum
(2016)



Plantão Medico Stress
Marco Antonio Spinelli
Biologia e Saude
(1998)



A Filosofia nas Suas Origens Gregas
Tiago Adão Lara
Vozes
(1989)



O Diabo se Diverte
Natalie Babbitt
Atica
(1998)





busca | avançada
124 mil/dia
2,0 milhões/mês